Formação a distância já é realidade para mais de 60% dos professores no país Especialista alerta que a expansão da modalidade pode comprometer a vivência prática e qualidade do ensino Mais de 60% dos professores no Brasil concluem licenciatura a distância, mas especialistas alertam para riscos à formação prática e à qualidade do ensino, defendendo supervisão mais rigorosa pelo MEC.
Nos últimos dez anos, a formação de professores no Brasil passou por uma transformação profunda.
Em 2013, apenas 26% dos docentes tinham concluído a licenciatura a distância em instituições privadas.
Hoje, esse percentual já chega a 61%.
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O dado, do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, coloca em evidência uma tendência que traz oportunidades de acesso, mas também riscos concretos à qualidade da educação, conforme o doutor em educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Gabriel Petter.
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Inscreva-se no canal do Terra Ao Terra, o especialista apontou que a tendência de crescimento tem se consolidado, sobretudo nos cursos de pedagogia, e pode ser explicada por alguns fatores: a privatização da oferta de vagas, o perfil do público atendido e o baixo custo dos cursos.
"São, em geral, estudantes mais velhos, trabalhadores, que buscam conciliar o ensino superior com a vida profissional.
🌍 Contexto e Relevância
E como as mensalidades são baratas, esses cursos se tornam muito acessíveis".
O cenário se soma a outro avanço registrado na última década: a redução de professores da educação básica sem diploma universitário, que caiu de 23,8% para 12,5%.
Ainda assim, especialistas alertam que a expansão quantitativa da formação não pode ofuscar os desafios qualitativos.
O impacto na formação docente
Apesar de reconhecer o papel inclusivo do EAD, Petter destaca riscos associados à modalidade.
"A docência é uma atividade relacional.
Quando a formação é feita de forma muito individualizada, com aulas gravadas e poucos espaços de debate, perde-se uma qualidade essencial, que é o convívio com o contraditório e a vivência em sala de aula.
Isso prejudica a formação prática do professor", afirma.
Segundo ele, mesmo com a exigência recente de que metade da carga horária dos cursos de licenciatura seja presencial, ainda é difícil garantir que os estágios curriculares e momentos práticos sejam cumpridos adequadamente.
"Quem garante que esses momentos presenciais vão, de fato, ocorrer em todos os cursos, dada a enorme quantidade de ofertas?
Sem essa vivência, especialmente na educação infantil, que exige habilidades muito específicas, há um risco de perda significativa na qualidade da formação", completa.
As consequências chegam diretamente à sala de aula.
Segundo Petter, é comum que o ensino médio seja impactado por deficiências acumuladas desde o fundamental.
"Temos alunos que chegam sem saber realizar operações básicas ou com dificuldades enormes de leitura.
Uma boa formação docente pode minimizar esses impactos, mas, quando é precária, os problemas se acumulam até a universidade, onde ainda encontramos estudantes que não sabem interpretar um texto”, alerta Petter.
Para o pesquisador, a solução passa por maior rigor na supervisão dos cursos pelo Ministério da Educação (MEC).
"O problema não é a quantidade de matrículas nem a existência de instituições privadas.
Elas ajudam, de certa forma, também a incrementar o número de pessoas que conquistam, muitas delas numa primeira geração familiar, um título universitário.
Mas é preciso que haja uma supervisão do MEC".
"Docência não é para qualquer um.
📊 Informação Complementar
Ser professor exige formação sólida, teórica e prática", defende.
A expansão da educação a distância tem, por outro lado, permitido que muitos brasileiros sejam os primeiros de suas famílias a obter um diploma universitário.
"Não existe uma crítica por si só à educação à distância.
Ela cumpre a função de dar acesso ao diploma superior.
[…] Mas se a gente formar profissionais ruins, especialmente no campo da educação, só estaremos reproduzindo as desigualdades sociais", conclui Petter.
Fonte: terra
27/09/2025 08:59