Banco Central e Fed: especialistas analisam impactos dos juros e autonomia das instituições Na semana passada, Selic foi mantida em 15% ao ano, e EUA cortaram taxa de juros local em 0,25 ponto percentual Economia|Yumi Kuwano, do R7, em Brasília LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA Produzido pela Ri7a – a Inteligência Artificial do R7 Pela primeira vez em nove meses, os Estados Unidos reduziram sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual, levando-a para a faixa de 4% a 4,25% ao ano.
O movimento ocorre em meio a críticas ao presidente americano, acusado de tentar interferir de forma cada vez mais agressiva no funcionamento do Fed (Federal Reserve), o banco central do país.
No Brasil, em contraste, a Selic permanece em 15% ao ano, mantendo-se como a segunda taxa real de juros mais alta do mundo.
Criado em 1914 como uma instituição independente, o Fed volta ao centro do debate justamente por causa dessas pressões políticas.
A comparação com o Brasil expõe tradições institucionais distintas, mas um dilema semelhante: até que ponto os governos devem influenciar bancos centrais que, em teoria, deveriam atuar de forma autônoma.
🧠 Análise da Situação
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“Nos Estados Unidos, a independência do Fed é consolidada há décadas, de modo que a pressão política, embora ruidosa, não altera substancialmente sua credibilidade.
No Brasil, ao contrário, a autonomia do Banco Central é recente e ainda passa por um processo de consolidação.
Isso faz com que críticas mais duras reverberem com maior intensidade e gerem dúvidas sobre a resiliência das nossas instituições”, analisa o economista Hugo Garbe.
Em junho, Lula voltou a criticar os juros altos, mas disse confiar no Banco Central — que só passou a ser formalmente autônomo em 2021.
Apesar de esperar uma Selic menor, o presidente mudou de postura depois que Gabriel Galípolo assumiu o comando da instituição e deixou de fazer críticas contundentes, algo comum à época em que Roberto Campos Neto era o presidente do BC.
Mesmo assim, a economista da FGV (Fundação Getulio Vargas) Carla Beni vê um paralelo entre as pressões feitas por Lula e Donald Trump, mas aponta as diferenças.
“Lula fez críticas ao presidente do Banco Central na época, e a forma que ele fez realmente foi ruim.
No Banco Central dos Estados Unidos já é diferente.
O que o Trump fez foi algo sem precedentes, de chamar o presidente do banco central [Jerome Powell] de idiota publicamente, de uma forma muito agressiva, mas o pior foi ele ter demitido uma diretora que tinha um mandato de 14 anos por uma rede social, que, por sinal, é dele”, comentou a economista.
Na última quinta (18), Trump solicitou à Suprema Corte do país uma autorização para prosseguir com a demissão da diretora do Fed Lisa Cook.
Impacto do corte
Mestre em direito econômico e especialista em comércio internacional, Ricardo Inglez explica como os juros dos EUA impactam o fluxo de investimento.
“Quando os juros estão mais altos, os investidores tendem a deixar mais recurso naquele país.
Com isso, sobram menos dólares para serem investidos no Brasil, e alguns investidores podem até retirar recursos investidos no Brasil e levar para os Estados Unidos”, avalia.
Segundo a internacionalista Ana Paula Abritta, em países onde a economia desacelera e a inflação ainda é um problema, a recente decisão do Fed pode aumentar a pressão política interna sobre os bancos centrais locais para que também reduzam suas taxas, mesmo que as condições domésticas não sejam totalmente favoráveis.
“O Fed tem navegado em um cenário de inflação elevada, mas com uma economia mais resiliente, permitindo uma abordagem mais gradual e agora com a perspectiva de cortes de juros para sustentar o crescimento e o emprego, enquanto a inflação converge para a meta”, detalha Ana.
A internacionalista destaca ainda que, com o corte de juros, a discussão no Brasil sobre o tarifaço e seus impactos na economia global pode ser intensificada ou mitigada, a depender da direção da política monetária local.
Perguntas e Respostas
Quais foram as recentes mudanças nas taxas de juros nos Estados Unidos e no Brasil?
Os Estados Unidos reduziram sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual, levando-a para a faixa de 4% a 4,25% ao ano.
No Brasil, a Selic permanece em 15% ao ano, sendo a segunda taxa real de juros mais alta do mundo.
Qual é a importância da autonomia do Fed e do Banco Central do Brasil?
O Fed, criado em 1914 como uma instituição independente, enfrenta pressões políticas que podem afetar sua credibilidade.
No Brasil, a autonomia do Banco Central é recente, tendo sido formalizada em 2021, e ainda está em processo de consolidação, o que gera dúvidas sobre a resiliência das instituições brasileiras.
Como o presidente Lula tem se posicionado em relação aos juros altos?
O presidente Lula criticou os juros altos, mas expressou confiança no Banco Central após a nomeação de Gabriel Galípolo.
Sua postura mudou em relação ao período em que Roberto Campos Neto era presidente da instituição, quando suas críticas eram mais contundentes.
Quais são as comparações feitas entre as pressões políticas sobre os bancos centrais dos EUA e do Brasil?
A economista Carla Beni traça um paralelo entre as críticas de Lula e Donald Trump, destacando que, enquanto Lula fez críticas ao presidente do Banco Central de forma inadequada, Trump adotou uma abordagem mais agressiva, chamando publicamente o presidente do Fed de idiota e demitindo uma diretora por meio de uma rede social.
Como as taxas de juros dos EUA impactam o investimento no Brasil?
Ricardo Inglez explica que, quando os juros nos EUA estão altos, os investidores tendem a manter mais recursos naquele país, resultando em menos dólares disponíveis para investimento no Brasil e, em alguns casos, a retirada de recursos já investidos no país.
Qual é a relação entre a decisão do Fed e a pressão sobre os bancos centrais locais?
A internacionalista Ana Paula Abritta observa que a recente decisão do Fed pode aumentar a pressão política interna sobre os bancos centrais de países com economias desaceleradas e inflação, para que também reduzam suas taxas, mesmo que as condições locais não sejam favoráveis.
📊 Informação Complementar
Como a abordagem do Fed pode influenciar a política monetária no Brasil?
A abordagem gradual do Fed, que busca sustentar o crescimento e o emprego enquanto a inflação converge para a meta, pode intensificar ou mitigar a discussão no Brasil sobre a tarifa e seus impactos na economia global, dependendo da direção da política monetária local.
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Fonte: r7
23/09/2025 08:11