Você sabe o que são Terras raras e por que tem tanta gente graúda atrás delas?
Controle sobre a cadeia de suprimentos de minerais críticos e terras raras tornou-se uma questão estratégica para os EUA.
Quando retornou à Casa Branca com seu projeto de levar os EUA a uma era dourada novamente, Donald Trump apostou numa guerra comercial contra aliados e rivais que tinha como principal objetivo enfraquecer a ascensão da China ao status de potência global.
Dentro da ótica trumpista, o imenso superávit comercial do gigante asiático é consequência direta do enfraquecimento industrial americano.
Esse dinheiro financia a modernização tecnológica e militar que vem ameaçando o status de Washington como potência hegemônica.
📊 Informação Complementar
Para corrigi-lo, dizem Trump e seus ideólogos, é preciso punir a China com tarifas pesadas.
Após idas e vindas no modo ‘Trump sempre pipoca’ (TACO, na sigla em inglês) retaliação mais dura de Pequim veio no começo deste mês, quando o Ministério do Comércio restringiu a exportações de terras raras e ímãs de alta performance para os Estados Unidos.
🌍 O Cenário Atual de estadao
Quem acompanha a coluna sabe que metais raros são cruciais para indústrias de ponta do século 21, principalmente na eletrificação da economia, na indústria de defesa e na construção de data centers de Inteligência Artificial.
Logo que assumiu o cargo, Trump manifestou um súbito interesse por esse tipo de mineral, até mesmo fazendo ameaças de anexação a países ricos em terras raras como o Canadá e a Groenlândia, e pressionando a Ucrânia para entregá-las em troca de ajuda militar.
Por mais que Trump não seja exatamente um amante da energia limpa e de carros elétricos, o presidente sabe que o complexo industrial-militar americano e o avanço da IA são extremamente dependentes deste tipo de matéria prima.
A expansão do PIB americano hoje, inclusive, se dá em parte graças aos investimentos em inteligência artificial.
Elementos como o neodímio, o gálio e outros são cruciais na construção de equipamentos de elite das Forças Armadas americanas como o caça F-35, submarinos nucleares Virgínia e Columbia, o drone Predador, sistemas de radares e bombas inteligentes.
Controle chinês
Hoje, a China controla 70% das minas mundiais de terras raras e 90% do refino desses minérios.
Pequim também detém 93% da produção de super-ímãs, que são o produto final dessa cadeia e cruciais tanto para fins civis quanto militares.
Esse monopólio, construído a partir dos anos 80, ocorre por duas razões: Apesar do nome, as terras raras são comuns na natureza.
E são baratas.
Além de baratas, seu refino é problemático do ponto de vista ambiental.
Na lógica do pós-guerra fria, em que interessava ao Ocidente incluir a China no mercado global, terceirizando as indústrias para a mão de obra barata e desregulamentada de Pequim, fazia sentido deixar que Pequim controlasse esse tipo de mercado.
Mas o jogo mudou.
Xi restringiu remessas de produtos contendo apenas 0,1% de terras raras de origem chinesa, bem como o uso de equipamentos e tecnologias chinesas de mineração e refino.
O sistema de licenciamento também controla tecnologias de baterias elétricas.
Trump ficou possesso.
Logo após a mudança de regras, ameaçou a China com tarifas de 100%.
Mas não há sinais de que Pequim vá retroceder.
Depois de meses falando grosso, a Casa Branca está tentando caminhos alternativos.
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O acordo entre EUA e Austrália
O principal deles foi adotado nesta semana, durante a visita do premiê australiano, Anthony Albanese, à Casa Branca.
Austrália e Estados Unidos fecharam um acordo de US$3 bilhões no investimento da cadeia de suprimento de terras raras.
O valor é relativamente pequeno, mas assim como tudo que envolve terras raras, a questão não é volume, mas estratégia.
Como a China tem praticamente o monopólio das cadeias de produção, Trump finalmente parece ter entendido que não adianta adotar uma posição imperialista sobre a questão, ameaçando anexar territórios e exigindo reservas minerais em troca de armas.
É necessário desenvolver uma indústria rival à da China.
Nesse aspecto, os australianos estão bem posicionados.
O país tem uma longa expertise na área da mineração, com empresas grandes presentes em diversas partes do mundo.
Especificamente quando se fala de terras raras, a Austrália é a principal alternativa à China.
No ano passado, o país atraiu 45% dos investimentos no setor, segundo o Centro para Estudos Estratégicos Internacionais (CSIS).
A Austrália é também o quarto maior produtor de terras raras e tem a quarta maior reserva do planeta desse tipo de minério.
Suas universidades são líderes no estudo desse tipo de mineral e empresas do país já começou a refinar óxido de disprósio – uma terra rara fundamental – em minas na Malásia.
A exploração desse material é também uma espécie de seguro contra a projeção de poder da China no Pacífico.
Pequim e Canberra são dois importantes parceiros comerciais, mas a relação é tensa.
Em parte por isso, a Austrália assinou ainda no governo Biden um acordo com os EUA e o Reino Unido para obter tecnologia para desenvolver submarinos nucleares, que serviriam como dissuasão para uma China cada vez mais agressiva nos mares do leste.
Após a assinatura do acordo de terras raras, Trump, que via a cessão de tecnologia para o submarino com ressalvas, passou a apoiá-la.
Brasil pode ter um papel na disputa por minerais críticos, diz diretor da Eurásia
Christopher Garman analisa a rivalidade entre Estados Unidos e China e a disputa por terras raras.
Crédito: Daniel Gateno
E o Brasil?
A aproximação entre Albanese e Trump serve de lição para o presidente Lula, que no domingo se encontra com o presidente americano na Malásia, ali no meio do caminho entre a Austrália e a China.
O Brasil é o segundo maior detentor de reservas de terras raras no planeta e o terceiro maior destino de investimentos no setor.
Ainda que o mercado seja pequeno, ele é estratégico.
Trump pode obter toda a terra rara do mundo.
Se ele não tiver onde refiná-la, não adianta nada.
E como a Austrália mostrou, esse tipo de recurso pode ser útil para obter influência sobre o volátil presidente americano.
Já que Lula e Trump falam tanto de química, é hora de olhar com carinho para a tabela periódica.
Fonte: estadao
24/10/2025 13:11











