Na última quinta-feira (13), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que o governo norte-americano implementará novas tarifas recíprocas para todos os países que impõem impostos sobre as importações de produtos dos EUA. Trump destacou o etanol brasileiro como alvo das novas tarifas, argumentando que existe um desequilíbrio na balança comercial desse produto. O presidente explicou que, enquanto a tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%, o Brasil aplica uma taxa de 18% sobre as exportações americanas. Em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões para o país.
De acordo com a Casa Branca, os “impostos não recíprocos” estão custando mais de US$ 2 bilhões por ano às empresas americanas. O governo justificou que o ‘Plano Justo e Recíproco’ visa corrigir esses desequilíbrios comerciais históricos. Em dezembro, o déficit comercial dos EUA atingiu US$ 98,4 bilhões, um aumento de 24,7%, o maior desde março de 2022, impulsionado por um crescimento recorde nas importações.
Os EUA ainda estão definindo a implementação das tarifas recíprocas, avaliando cenários como: • Tarifas sobre produtos americanos; • Impostos considerados injustos ou discriminatórios, incluindo o imposto sobre valor agregado (IVA); • Custos causados por barreiras não tarifárias ou práticas prejudiciais, como subsídios e regulamentos excessivos; • Políticas que distorcem as taxas de câmbio e afetam a competitividade das empresas e trabalhadores dos EUA; • Outras práticas que, na opinião do Representante de Comércio dos EUA, restringem o acesso ao mercado ou impedem a concorrência justa com a economia dos EUA.
A Casa Branca afirmou que as tarifas serão ajustadas com base nas relações específicas com cada parceiro comercial e que os estudos sobre o tema devem ser concluídos até 1° de abril. Howard Lutnick, indicado por Trump para o cargo de secretário de Comércio, afirmou que os países afetados serão abordados individualmente. As tarifas não entrarão em vigor imediatamente, permitindo tempo para negociações com os EUA.
Impacto no Brasil
Para entidades brasileiras, como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e a Bioenergia Brasil, as tarifas recíprocas sobre o etanol representam mais um movimento dos EUA em direção a uma postura contrária ao combate às mudanças climáticas. Segundo essas entidades, a medida tenta igualar o etanol brasileiro ao americano, embora ambos tenham diferentes atributos ambientais e potenciais de descarbonização. Em caso de confirmação, isso representaria um retrocesso na luta contra as mudanças climáticas, destacam.
A UNICA também acredita que estados mais comprometidos com políticas sustentáveis, como a Califórnia, provavelmente continuarão comprando etanol do Brasil. Em entrevista ao CNN Money, Evandro Gussi, presidente da UNICA, afirmou que a cobrança de tarifas sobre o açúcar brasileiro nos EUA supera 100%, dificultando as exportações brasileiras. “Eles têm uma tarifa que, em termos percentuais, passa de 100% em relação ao preço do produto”, afirmou.
Diálogo
O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, comentou a decisão de Trump, destacando que o Brasil não é um problema comercial para os EUA e defendendo o diálogo como solução. Do total de dez produtos mais exportados pelo Brasil para os EUA, quatro não possuem tarifas, enquanto entre os dez principais produtos exportados pelos EUA para o Brasil, oito têm tarifas zeradas.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, destacou que, para que as tarifas sejam recíprocas, os EUA deveriam zerar as alíquotas de importação sobre o açúcar brasileiro, que atualmente enfrenta um imposto de 81,16% nos Estados Unidos. “A decisão de Trump é desarrazoada, pois não há contrapartida na ampliação da exportação de açúcar brasileiro. Essa postura enfraquece o multilateralismo e terá consequências negativas para a própria economia dos EUA”, afirmou em nota.