Um terreno público de alto valor, com mais de 19 mil metros quadrados e atualmente ocupado por um circo, está gerando um grande impasse entre a Prefeitura de São Paulo e os moradores da região. Localizado no Jardim Anália Franco, na Zona Leste da cidade, o terreno fica em frente ao shopping que leva o nome do bairro.
De um lado, a comunidade reivindica que o espaço seja transformado em um hospital público com maternidade, para atender a Subprefeitura de Aricanduva/Vila Formosa e Carrão, áreas que atualmente não contam com equipamentos de saúde desse porte. Do outro lado, a prefeitura propõe que o terreno seja destinado a um conjunto habitacional para famílias de baixa renda.
O terreno na Avenida Abel Ferreira, que possui um dos metros quadrados mais valorizados do bairro, com preços que chegam a R$ 12 mil, é estimado por especialistas em R$ 60 milhões a R$ 100 milhões. Um estudo de um engenheiro da prefeitura, ao qual o g1 teve acesso, defende que a melhor utilização para o espaço seria na área da saúde, já que a região carece de leitos públicos e não conta com um hospital municipal. O estudo destaca a necessidade de um hospital para atender emergências, reduzir a mortalidade infantil e materna, e melhorar o acesso a serviços de saúde na região.
O estudo ainda aponta que a construção de um hospital municipal e maternidade no local seria justificada pela proximidade de áreas com carência de infraestrutura e pela futura estação de metrô, que ficará a poucos metros do terreno. De acordo com os dados, Vila Formosa e Aricanduva figuram entre os distritos com as maiores taxas de mortalidade materna e infantil de São Paulo.
O movimento Salve Periférico, que representa os moradores da região, tem sido um dos principais defensores da construção do hospital, buscando apoio de autoridades para que a demanda da comunidade seja atendida. O ex-presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, se uniu ao movimento e solicitou um estudo de viabilidade para o projeto. No entanto, a resposta da Secretaria Municipal de Saúde foi que, na Zona Leste, os planos de expansão estão focados em melhorias nos hospitais municipais Dr. Benedito Montenegro e Dr. Alexandre Zaio, que não atendem a Subprefeitura de Aricanduva/Formosa/Carrão.
O subprefeito da região, Rafael Dirvan Martinez Meira, propôs a criação de uma horta comunitária no local, um projeto que foi suspenso após não ter havido empresas interessadas. Agora, a Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab) está em processo de transferência do terreno e planeja a construção de 429 unidades habitacionais voltadas para famílias de baixa renda, além de praças e hortas comunitárias.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou que o terreno será destinado a projetos habitacionais, uma vez que a área é classificada como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS 2), voltada para habitação popular. A subprefeitura informou ainda que o uso temporário do terreno pelo circo foi encerrado, com o circo sendo notificado a desocupar a área.
Luis Tadeu Eugênio, presidente do movimento Salve Periférico, comentou que, embora o grupo não seja contra a construção de casas populares, a principal demanda da comunidade é pela construção do hospital. Ele ressaltou que mais de 400 pessoas assinaram um abaixo-assinado pedindo um hospital e que a chegada do metrô ao bairro torna ainda mais urgente a implementação de um hospital com maternidade na região. O movimento também buscará apoio dos vereadores da região para pressionar a prefeitura a reconsiderar o destino do terreno.