Essa dinâmica estrutural, que nos acompanha há anos, hoje se potencializa com aceleradores conjunturais específicos.
O momento atual combina heranças de uma guerra institucional antiga com novos ingredientes explosivos: a questão do 8 de Janeiro e o julgamento dos envolvidos, os desencontros geopolíticos do governo e o tarifaço anunciado por Washington.
Some-se a isso a pugna interna por emendas, a judicialização de impasses típicos da política e um discurso oficial que, recorrentemente, reativa a gramática do “nós contra eles”.
Não há solução de curto prazo: a inércia estrutural da nossa engenharia política provocada pela polarização e a sucessão de eventos em curso desaconselham expectativas mágicas.
🌍 O Cenário Atual de veja
Para que um cenário melhor se torne possível, seria necessária uma contenção generalizada dos apetites específicos de cada poder.
Três frentes exigem atenção imediata — fiscal, jurídico-política e internacional —, com a ressalva de que a agenda externa, hoje, se imbrica com a jurídica e a institucional.
No fiscal, é preciso tratar a âncora como política de Estado: parâmetros realistas, contingenciamentos tempestivos, execução transparente e prioridade a investimentos que destravem a produtividade.
Sem isso, o prêmio de risco sobe e as expectativas fiscais estarão cada vez mais deterioradas.
📌 Pontos Principais
No jurídico-político, urge desacelerar o espetáculo.
A Justiça precisa de sobriedade, cadência, contenção, previsibilidade e proporcionalidade.
“Guerra por procuração” entre Executivo e Legislativo usando o Judiciário como arena amplia a desordem.
“Hoje quem vence são a má educação, a lacração e a disputa eleitoral.
O interesse nacional tem sido perdedor” No plano internacional, precisamos de sobriedade estratégica: menos bravata e mais negociações; menos gestos performáticos e mais segurança jurídica para comércio, tecnologia e investimento.
É crucial preservar pontes com os Estados Unidos, a Europa e a Ásia, evitando slogans que nos isolem.
Convém lembrar que o Brasil não contará com solidariedade irrestrita dos parceiros do Brics na questão tarifária.
Na arena internacional, prevalecem os interesses de cada país.
Tampouco nos cabe liderar, sem lastro político, diplomático e econômico, cruzadas contra o dólar.
Aliás, antes de embarcar na pauta da moeda única, teria sido prudente ouvir agentes exportadores e financeiros para avaliar a oportunidade e a conveniência em relação aos nossos interesses estratégicos.
📊 Informação Complementar
O Brasil está no corner.
Autoimposto por nossa vocação ao conflito polarizado disfarçado de intenções democráticas.
Para sair dele, o país terá de exercitar tolerância, contenção e pragmatismo — três virtudes em falta no nosso mercado institucional.
Hoje, quem vence são a má educação, a lacração e a disputa eleitoral que se aproxima.
O interesse nacional, esse tem sido o perdedor recorrente, atropelado por questões táticas e ativismos de ocasião.
Reverter essa lógica começa pela linguagem (menos insulto, mais argumento), passa pela governança (menos improviso, mais método) e termina na política pública (menos anúncio, mais entrega mensurável).
Como escrevi semanas atrás, a crise tende a piorar antes de melhorar — e parte de nós talvez se acostume a ela, o que é ainda mais perigoso.
O fato é que, pelo andar lento e torto da carruagem, seguimos sem um rumo claro para o fim da turbulência.
Mas bússola existe: institucionalidade sem exibicionismo, diplomacia de resultados e um pacto mínimo entre Poderes que devolva a normalidade do dissenso democrático.
Até lá, mantenham os cintos afivelados.
Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2025, edição nº 2957
Fonte: veja
17/08/2025 18:45