Orçamento: o elo entre sonhos, decisões e a dura realidade Planejar o uso do capital não é apenas um exercício racional — é também um modo de dar sentido ao que se ganha, ao que se gasta e ao que se quer construir “Não é o bastante conquistar a sabedoria, é preciso saber usá-la.” Machado de Assis Falar sobre orçamento é, em essência, falar sobre escolhas.
Toda decisão econômica, seja de uma pequena empresa ou de uma grande multinacional, de uma família ou de um governo, passa por uma avaliação fundamental: de onde virão os recursos e como eles serão utilizados.
São os famosos usos e fontes de capital, e aprender a lidar com limitações e a otimizar os recursos com propostas que possam ser medidas efetivamente é fundamental para encontrar o equilíbrio tão necessário para um crescimento sustentável, seja empresarial, governamental ou pessoal.
Peço licença a você, leitor de VEJA e VEJA NEGÓCIOS que me acompanha, para fugir um pouco dos temas sobre dinheiro e suas curiosidades que a coluna costuma trazer.
Venho propor desta vez uma importante reflexão que impacta a todos como sociedade: a construção de um orçamento público que permita, de forma equilibrada, obter crescimento e desenvolvimento sustentável de longo prazo, com aumento da renda média.
Permita também uma maior lucratividade das empresas que assumem risco o tempo todo, pagando impostos e gerando empregos e valor para a sociedade.
Já passou da hora de diferenciar ganhos de lucros.
A nossa carga tributária é uma das maiores do mundo, e a qualidade dos serviços públicos é extremamente questionável.
O orçamento não é apenas um exercício contábil.
Ele é, sobretudo, um instrumento de planejamento, disciplina e coerência entre metas e meios.
Na prática, funciona como uma bússola: ajuda a traçar o caminho, a ajustar a rota e a antecipar tempestades.
Sem ele, decisões importantes ficam à mercê do improviso — e, no mundo econômico, o improviso raramente é um bom conselheiro.
E você, já sabe para onde vai cada centavo do seu orçamento?
Quantos dias trabalha para pagar impostos?
Neste artigo, exploramos o papel central do orçamento em três frentes distintas, mas interligadas: a vida das empresas, a das pessoas e a do Estado.
Porque, no fim das contas, planejar é preciso.
E orçar é agir com consciência.
O atual governo brasileiro substituiu o teto de gastos criado na gestão do presidente Temer, e o resultado tem sido um crescimento das despesas muito acima da capacidade do Estado de arrecadar, embora o volume de impostos pagos pelos contribuintes tenha aumentado de forma exponencial.
Recorrer a aumento de impostos para equilibrar gastos por falta de um orçamento competente é algo equivalente a uma empresa em dificuldade que decide aumentar seus preços sem justificativas de mercado ou ao trabalhador que decide pedir aumento apenas porque gastou mais do que deveria, por falta de um orçamento pessoal.
O resultado disso todos conhecemos: inflação fora da meta, impacto negativo na cesta de consumo, taxa de juros alta e crescimento acelerado da dívida pública.
Recomendo aos leitores de todas as idades que revisitem informações sobre a inflação no Brasil no período de 1979 a 1993 e, depois, busquem a mesma informação sobre o que ocorreu com a introdução do Plano Real.
O orçamento na atividade empresarial
Nenhuma empresa nasce grande — mas muitas deixam de crescer por falta de organização financeira.
No universo corporativo, o orçamento é o elo entre a estratégia e a execução.
Ele transforma planos ambiciosos em projeções realistas e permite que líderes façam escolhas com base em dados, e não apenas em intuições.
Empresas que orçam bem não apenas preveem receitas e despesas.
Elas analisam cenários, simulam riscos, estabelecem metas por unidade de negócio e criam mecanismos de controle para acompanhar a execução orçamentária ao longo do ano.
Isso vale tanto para o planejamento de investimentos (Capex), como a compra de máquinas ou a abertura de novas filiais, quanto para os gastos operacionais (Opex), como folha de pagamento, marketing e despesas recorrentes.
Por exemplo, uma indústria que planeja dobrar sua capacidade de produção em cinco anos precisa quantificar investimentos em equipamentos, estoques, pessoal e infraestrutura — e confrontar esses números com a capacidade de endividamento e geração de caixa.
Um bom orçamento empresarial cumpre quatro papéis fundamentais:
– Planejar o crescimento com base em metas viáveis.
– Controlar os gastos em tempo real, evitando surpresas no fluxo de caixa.
– Avaliar o desempenho de áreas e gestores com base em dados orçamentários.
– Comunicar as prioridades da empresa de forma clara a todos os envolvidos.
Empresas que ignoram esse processo tendem a operar no “modo reativo”: apagam incêndios, gastam além da conta ou cortam recursos estratégicos em momentos críticos.
Já aquelas que fazem do orçamento um aliado conseguem não apenas sobreviver em ambientes desafiadores, mas também inovar com responsabilidade.
O orçamento pessoal: um antídoto contra o descontrole
Em finanças pessoais, o orçamento tem um papel ainda mais íntimo: é o reflexo da vida de alguém em números.
Ele revela não apenas quanto se ganha ou se gasta, mas como se vive, o que se prioriza, quais os sonhos em construção — ou os hábitos que sabotam o futuro.
Muitos brasileiros ainda encaram o orçamento como algo restritivo, quase punitivo.
Mas a verdade é que ele é libertador.
Quem sabe para onde o dinheiro está indo tem mais autonomia para decidir, mais clareza sobre os próximos passos e menos ansiedade diante das incertezas.
Um orçamento doméstico bem estruturado contempla:
– Receitas (salários, rendimentos, eventuais extras).
– Despesas fixas (aluguel, contas, escola).
– Despesas variáveis (alimentação, lazer, compras eventuais).
– Investimentos e reserva de emergência.
– E, se possível, um espaço para sonhos — uma viagem, um curso, uma mudança de vida.
Organizar esses elementos não exige complexidade técnica, mas sim constância e disciplina.
Hoje, há dezenas de aplicativos e planilhas que facilitam essa tarefa.
Ainda assim, é na mudança de comportamento que mora o maior desafio.
Um bom orçamento pessoal exige revisão periódica, conversas em família e metas bem definidas.
Planejar a aposentadoria, lidar com dívidas ou poupar para um imóvel deixam de ser intenções genéricas quando traduzidos em um orçamento com prazos e valores.
O futuro, que parecia distante, passa a ter uma data.
E isso muda tudo.
Assim, planejar não é restringir — é abrir caminho para aquilo que realmente importa.
O orçamento governamental: política com números
Se o orçamento pessoal reflete decisões individuais e o empresarial traduz uma estratégia, o orçamento público é a expressão prática da política.
É onde as promessas ganham — ou perdem — substância.
Não há plano de governo que se sustente sem previsão orçamentária.
No Brasil, o orçamento público se materializa em três peças fundamentais: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA).
Juntos, esses instrumentos definem metas de médio prazo, orientam a elaboração do orçamento anual e detalham como os recursos serão alocados.
Mas o desafio vai além da técnica.
A complexidade do sistema orçamentário brasileiro, somada à rigidez de parte das despesas — como os gastos obrigatórios com Previdência e pessoal —, reduz o espaço de manobra do gestor público.
Em muitos casos, a margem para investir em saúde, educação ou infraestrutura é estreita — e sujeita a pressões políticas de toda ordem.
Fontes e usos do capital
As fontes e usos de capital revelam as engrenagens que mantêm empresas, governos e famílias em movimento.
Planejar como obter e empregar os recursos disponíveis é tão importante quanto o montante em si.
Empresas contam com lucros retidos, emissão de dívida e venda de participação como principais fontes.
Usam esse capital para investir em ativos, financiar o capital de giro, inovar e expandir.
No início da trajetória, dependem mais de aportes dos sócios e investidores-anjo; à medida que crescem, recorrem ao crédito bancário e ao mercado de capitais.
Pessoas físicas dependem de rendimentos do trabalho e do capital, crédito e poupança, e aplicam esses recursos em consumo, investimentos e proteção contra riscos.
Já os governos se baseiam em receitas tributárias, emissão de dívida e royalties para financiar serviços públicos, pagar benefícios sociais e investir em infraestrutura.
Saber de onde vem e para onde vai cada centavo é uma prática essencial para eficiência, equidade e sustentabilidade.
Conclusão: entre o papel e a realidade
Em tempos de mudanças rápidas e incertezas constantes, orçar é mais do que planejar — é resistir ao improviso.
Seja no ambiente corporativo, no dia a dia das famílias ou nas estruturas do Estado, o orçamento bem-feito protege, organiza e direciona.
Não se trata de prever o futuro com exatidão, mas de se preparar para ele com responsabilidade.
📊 Informação Complementar
Afinal, entre o sonho e a realização, há sempre uma conta a ser paga.
E quem conhece seus números tem mais chance de fazer seus sonhos caberem no mundo.
Planejar o uso do capital não é apenas um exercício racional — é também um modo de dar sentido ao que se ganha, ao que se gasta e ao que se quer construir como sociedade.
O orçamento bem-feito prioriza as necessidades e nos conduz a um futuro seguro.
Disse Machado de Assis:
“Dinheiro não traz felicidade, mas suprime a falta que ela faz.”
Fonte: veja
23/07/2025 14:43