O velho, o mar e o jaleco: por dentro da saga médica brasileira Como no clássico romance de Ernest Hemingway, quem decide ser médico no Brasil enfrenta tempestades e mares revoltos, mas deve perseverar para ter sucesso A história de vida da maioria dos médicos brasileiros se parece muito com o famoso livro “O Velho e o Mar“, escrito por Ernest Hemingway (1899-1961), nos seus dias perto do mar do Caribe, em 1952.
Na brilhante narrativa de Hemingway, um velho pescador sai para pescar em sua pequena canoa e consegue um enorme peixe.
Luta, se desgasta, chega em seu limite, e finalmente consegue fisgar o enorme animal.
Mas a jornada só está começando.
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Levado pelas correntezas, ele tem uma longa viagem de volta e como o peixe não cabe no seu pequeno barco ele é obrigado a amarrá-lo ao lado e, com isso, tubarões e outros seres marinhos vão comendo seu troféu pelo percurso.
Ele chega no porto só com esqueleto, mas seus velhos amigos acreditam na sua história, pelo tamanho da carcaça presa ao barco.
A jornada da medicina começa quando ainda somos muito jovens, sonhamos com o glamour das roupas e jalecos, a beleza dos consultórios e centros cirúrgicos, a hierarquia do saber e cuidar, a riqueza.
Com o passar do tempo, ao contrário de uma tempestade em pesca no mar, não chega a calmaria e, sim, as dificuldades e desilusões de quem se dedicou a vida toda e terminou a jornada com poucos peixes, mas talvez com a admiração de outros pescadores.
🔍 Detalhes Importantes
A vida de um médico começa com um mar bravo, com ondas e correntezas que tem que ser vencidas por um jovem pescador que almeja uma vaga em uma ilha chamada faculdade de medicina.
Como na natureza, esse pequeno espaço de terra é extremamente disputado e mesmo quando alcançado não é nada fácil ficar por lá.
Chuvas de provas, ondas de trabalhos e leituras, o sol escaldante dos longos plantões e as noites em claro dos estudos são um desafio para quem sonhou estar ali.
Passado esse período, o jovem pescador tem que navegar para seus objetivos e remar ferozmente para alcançar uma especialização.
No oceano do Brasil existem muito menos vagas para especialidades do que médicos que se formam e conseguir esse título é enfrentar os piores dos mares.
Muitos ainda querem ir além.
📊 Informação Complementar
Velejam para outras especialidades, escrevem livros, artigos ou seguem a longa jornada de serem mestres e doutores dos oceanos.
Durante todos esses anos de travessia, a água (dinheiro) e a comida (o reconhecimento) são limitadas e é necessário economizar em prol do aprendizado.
Ainda em mares turbulentos, ele se vê obrigado a investir em uma dispendiosa e cara embarcação, seu consultório, ou decidir ficar aportado em eternos plantões em faróis chamados Hospitais, nos quais o salário é baixo e o isolamento é grande.
A escassez de peixe no início leva muitos a mudarem de profissão ou entrarem em um barco pirata, extremamente sedutor para os jovens e inexperientes meninos do mar.
Essas embarcações têm levado cada vez mais médicos para um caminho de extorsões e saques, propósito totalmente diferente do que eles prometeram: o cuidar.
Mas, hoje, quero continuar falando dos que lutam para serem grandes pescadores e que enfrentam essa enorme jornada para serem bons, não só tecnicamente, mas também bons de caráter!
Se coloquem por alguns minutos nessa história.
Fechem os olhos e imaginem o quanto é difícil essa maré em uma vida que é rápida e cheia de tentações para que você fuja dessa pescaria de ser médico.
A vida vai passando, ele conhece uma diversidade de rios, mares e oceanos e raramente vê suas redes, ou melhor, bolso, com muito dinheiro.
Na maioria das vezes consegue o suficiente para ter uma canoa, um abrigo e manter sua família, sem grandes luxos.
Em não sendo um pirata, raros são aqueles que conseguem alcançar as grandes áreas pesqueiras e ficarem com os barcos cheios que irão garantir fartura nos tempos futuros.
Em geral, essa jornada se assemelha muito ao livro: uma enorme luta para conseguir grandes títulos, mas que vai se desgastando com o passar do tempo.
No final, quando paramos o barco no porto, velhos amigos reconhecerão sua grande pescaria e lhe dar títulos, placas, presidências de mesa em Congressos e de sociedades.
Como no conto, ele deixará pouco peixe para comer até o fim da vida e, mesmo velho, ele terá que continuar pescando.
Fonte: veja
26/06/2025 12:17