Os fatos da semana que se encerra indicam, sem a menor dúvida, que a crise entre os Estados Unidos e o Brasil não terminará tão cedo e, mesmo quando arrefecer, deixará sequelas graves — tanto para o Brasil quanto para o relacionamento entre as duas nações.
Contribui para a manutenção da crise o desejo explícito dos atores envolvidos em manter a fogueira acesa por meio de declarações e atitudes calculadas.
Outros fatores são igualmente decisivos: a sobreposição de considerações ideológicas aos cálculos pragmáticos na condução das relações exteriores e a incapacidade de se preparar adequadamente para o agravamento da crise do multilateralismo e da guerra tarifária.
💥 Impacto e Consequências
Essa postura, marcada pela certa passividade e pelos arroubos doutrinários, se reflete também na demora em construir uma narrativa negocial consistente com os Estados Unidos.
Nesse vácuo de ação governamental, o setor privado já se movimenta politicamente para tentar defender suas posições em Washington.
O governo ainda não lança mão de instrumentos consagrados que vários países utilizam para influenciar o debate político nos EUA, como o uso estratégico de empresas de advocacy, escritórios de relações governamentais e think tanks especializados em comércio e política externa, todos com amplo acesso aos centros de decisão em Washington.
📊 Fatos e Dados
No plano interno, a Faria Lima e suas estruturas de compliance se veem entre a cruz e a caldeirinha quando ministros do STF, como Flávio Dino e Alexandre de Moraes, afirmam que os bancos não poderão banir contas bancárias de sancionados.
As declarações, embora apresentadas em nome da preservação de garantias individuais, têm endereço certo: estimular os bancos a defender sua autonomia institucional diante de pressões externas.
“A instabilidade aumenta a percepção internacional de que o Brasil atravessa um período de fragilidade institucional” A guerra de narrativas gera insegurança regulatória num momento em que as sanções financeiras são justamente o principal instrumento de coerção internacional utilizado pelos EUA.
🔄 Atualizações Recentes
A instabilidade aumenta a percepção internacional de que o Brasil atravessa um período prolongado de fragilidade institucional, o que afeta diretamente o humor dos investidores.
Politicamente, a divulgação das transcrições de diálogos entre Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, somada a novos indiciamentos, jogou gasolina na fogueira que já arde em alta intensidade.
São temas que sinalizam que os processos em tramitação no STF continuarão a se desdobrar e a gerar repercussões políticas graves.
As investigações do STF contra o pastor Silas Malafaia acrescentam um elemento delicado.
A repercussão externa pode sugerir um paralelo incômodo com episódios de perseguição a religiosos em períodos autoritários no Brasil e, mais recentemente, na Nicarágua.
Essa comparação é, em si, corrosiva para a imagem do país, sobretudo em um Congresso americano historicamente sensível a qualquer narrativa de perseguição religiosa.
Portanto, não estamos livres de um agravamento ainda maior da crise.
Pois o padrão decisório do governo americano parece hoje guiado por uma questão insolúvel — a absolvição de Jair Bolsonaro — e por aspectos geopolíticos, tais como moeda única, relações com Israel e fortalecimento do Brics, que continuam em aberto.
Publicado em VEJA de 22 de agosto de 2025, edição nº 2958
Fonte: veja
25/08/2025 06:14