Moraes vota para condenar Bolsonaro e mais 7 réus por trama golpista Primeiro a votar no julgamento de Bolsonaro, Moraes apontou ex-presidente como líder de organização criminosa que tentou golpe de Estado atualizado Compartilhar notícia O ministro Alexandre de Moraes votou pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no julgamento da trama golpista.
Moraes julgou que mais sete réus do núcleo 1 também devem ser condenados nos termos da acusação da Procuradoria-geral da República (PGR).
Além de Bolsonaro, Moraes votou pela condenação de: Alexandre Ramagem; Almir Garnier; Anderson Torres; Augusto Heleno; Mauro Cid; Paulo Sérgio Nogueira; e Walter Braga Netto.
Acompanhe aqui:
Crimes imputados pela PGR aos réus da trama golpista:
– Organização criminosa armada.
– Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
– Golpe de Estado.
– Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima (com exceção de Ramagem).
– Deterioração de patrimônio tombado (com exceção de Ramagem).
– Os crimes atribuídos a Alexandre Ramagem – deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado – foram suspensos por terem ocorrido após a diplomação, atendendo parcialmente ao pedido da Câmara dos Deputados.
🧠 Análise da Situação
Em mais de cinco horas de explanação do seu voto no julgamento da chamada trama golpista, o relator do caso, ministro Moraes, fez um resumo da ação penal aberta contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete aliados.
Ele detalhou, de forma cronológica, inclusive com uso de organogramas, o papel de Bolsonaro, apontado como líder da organização criminosa, e dos réus na tentativa de golpe de Estado.
“Esse julgamento não discute se houve ou não tentativa de golpe, se houve ou não tentativa de abolição ao Estado de Direito.
O que se discute é a autoria.
Não há nenhuma dúvida nessas todas condenações (anteriores) de que houve tentativa de abolição, que houve tentativa de golpe, que houve organização criminosa”, ressaltou o ministro, o primeiro dos cinco ministros da Primeira Turma do STF a proferir seu voto.
Já no início da tarde, o ministro relator ressaltou em seu voto uma resposta a questionamentos das defesas dos réus: “A tentativa consuma o crime.
Todos esses atos executórios, desde junho de 2021, até este momento, e prosseguindo até 8/1 2023, foram atos que consumaram golpe de estado.
Não consumaram o golpe, mas não há necessidade de consumar o golpe”.
A Primeira Turma do STF reiniciou, nesta terça-feira (9/9), o julgamento de Bolsonaro.
Nenhum dos oito réus acompanham o julgamento no STF.
Às 12h38, Moraes pediu 10 minutos de recesso.
A sessão foi retomada às 12h53.
O ministro colocou Bolsonaro como líder da “organização criminosa” responsável pelo golpe de Estado, inclusive apresentando um organograma.
“O réu Jair Bolsonaro deu sequência a essa estratégia golpista estruturada pela organização criminosa, sob sua liderança, para já colocar em dúvida o resultado das futuras eleições, sempre com a finalidade de obstruir o funcionamento da Justiça eleitoral, atentar contra o Poder Judiciário e garantir a manutenção do seu grupo político no poder, independentemente do resultado das eleições”, destacou Moraes.
Moraes seguiu: “Nós estamos esquecendo aos poucos que o Brasil quase volta a uma ditadura que durou 20 anos porque uma organização criminosa constituída por um grupo político não sabe perder eleições.
Uma organização criminosa, liderada por Jair Bolsonaro, não sabe o que é o princípio democrático de alternância de poder.
Quem perde vira oposição e disputa as próximas eleições”.
“Nem os mais pessimistas podiam esperar que o que estava sendo planejado, sob o codinome punhal verde e amaraelo, seria o assassinato do presidente e vice eleitos e do então presidente do TSE, eu mesmo”, afirmou Alexandre de Moraes.
Delação de Mauro Cid
Moraes reforçou a legitimidade da delação feira pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid.
“Colaborações premiadas não são de exclusividade do MP.
O STF já decidiu que a colaboração premiada é um meio de obtenção de prova, por isso, a polícia também tem o direito de realizar a delação com o colaborador”, afirmou.
“Não há vício no acordo ser realizado entre a polícia e o colaborador (Cid)”, completou.
Segundo Moraes, “as defesas insistem e confundem os oito primeiros depoimentos com oito delações contraditórias.
Isso foi reiteradamente dito aqui como se fosse a verdade.
Isso beira a litigância de má-fé”.
O ministro também citou ameaças feitas por Bolsonaro.
“Todos se recordam em uma grande crise institucional em relação ao Poder Legislativo foi criado quando o então presidente, hoje réu, em seus discursos, tanto no discurso no 7 de Setembro, em Brasília, quanto na Paulista, realizou várias ameaças e afirmou categoricamente que descumpria ordens judiciais”, acrescentou.
De acordo com Moraes, o ex-presidente agiu “instigando várias pessoas e pelas redes, instigou contra o Poder Judiciário, contra o STF, contra seus ministros, o que fez que o STF aumentasse sua segurança — por determinação do ministro Luiz Fux”.
O ministro analisa se há material probatório suficiente para condenação, se devem ser aplicados agravantes, que podem aumentar a pena.
Bolsonaro, por exemplo, é apontado como líder de organização criminosa, o que pode ampliar o tempo de pena.
Todos os oito réus são acusados de atuar contra a ordem democrática.
Sete integrantes do núcleo de Bolsonaro respondem a cinco crimes.
Sendo que o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) responde a três.
O próximo a votar deve ser o ministro Flávio Dino.
O ministro Luiz Fux deve votar somente na quarta-feira (10/9).
Nesse dia, o julgamento começa também às 9h (mas encerra-se às 12h).
O Metrópoles apurou que a chance de haver pedido de vista na ação penal é remota, especialmente por parte do ministro Luiz Fux que, em outras ocasiões, divergiu de Moraes em pontos do processo — sobretudo em relação às versões da delação de Mauro Cid, foco central das defesas nos últimos dois dias.
E ainda sobre a competência da Turma para julgar o caso.
Fux deve tomar boa parte da quarta-feira (10/9) para proferir seu voto, que deve divergir de Moraes, principalmente do que diz respeito às penas impostas para cada crime confirmado.
Em seguida, votam Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
Os dois ministros terão os dias 11 e 12, das 9h às 19h, para votar.
Quando todos os ministros concluírem suas considerações sobre preliminares e mérito, será feita a dosimetria da pena, uma espécie de ajuste dos votos de cada ministro para saber qual será a imputação a cada réu.
Confira os réus do núcleo crucial
– Alexandre Ramagem: ex-diretor da Abin, ele é acusado pela PGR de atuar na disseminação de notícias falsas sobre fraude nas eleições.
– Almir Garnier Santos: ex-comandante da Marinha, ele teria apoiado a tentativa de golpe em reunião com comandantes das Forças Armadas, na qual o então ministro da Defesa apresentou minuta de decreto golpista.
Segundo a PGR, o almirante teria colocado tropas da Marinha à disposição do plano.
– Anderson Torres: ex-ministro da Justiça, ele é acusado de assessorar juridicamente Bolsonaro na execução do plano golpista.
Um dos principais indícios é a minuta do golpe encontrada na casa de Torres, em janeiro de 2023.
– Augusto Heleno: ex-ministro do GSI, o general participou de uma live que, segundo a denúncia, propagava notícias falsas sobre o sistema eleitoral.
A PF também localizou uma agenda com anotações sobre o planejamento para descredibilizar as urnas eletrônicas.
– Jair Bolsonaro: ex-presidente da República, ele é apontado como líder da trama golpista.
A PGR sustenta que Bolsonaro comandou o plano para se manter no poder após ser derrotado nas eleições e, por isso, responde à qualificadora de liderar o grupo.
– Mauro Cid: ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator do caso.
Segundo a PGR, ele participou de reuniões sobre o golpe e trocou mensagens com conteúdo relacionado ao planejamento da ação.
📊 Informação Complementar
– Paulo Sérgio Nogueira: ex-ministro da Defesa, ele teria apresentado aos comandantes militares decreto de estado de defesa, redigido por Bolsonaro.
O texto previa a criação de “Comissão de Regularidade Eleitoral” e buscava anular o resultado das eleições.
– Walter Souza Braga Netto: é o único réu preso entre os oito acusados do núcleo central.
Ex-ministro e general da reserva, foi detido em dezembro do ano passado por suspeita de obstruir as investigações.
Segundo a delação de Cid, Braga Netto teria entregado dinheiro em uma sacola de vinho para financiar acampamentos e ações que incluíam um plano para matar o ministro Alexandre de Moraes.
Fonte: metropoles
09/09/2025 14:26