Ligação de Lula a Trump pode destravar tarifaço, mas cartada preocupa governo e especialistas Ministros confirmaram telefonema, enquanto especialistas avaliam como uma demonstração de pragmatismo diplomático Brasília|Edis Henrique Peres e Luiza Marinho*, do R7, em Brasília RESUMO DA NOTÍCIA Produzido pela Ri7a – a Inteligência Artificial do R7 A hipótese de uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o republicano Donald Trump começa a ser avaliada por integrantes do Executivo e do Legislativo como um recurso capaz de destravar a negociação que busca reduzir as tarifas de 50% anunciadas pelos Estados Unidos e que entram em vigor nesta sexta-feira (1º).
Faltando dois dias para o início da taxação, interlocutores do Palácio do Planalto e ministros do governo avaliam uma estratégia para que o contato telefônico cumpra o papel esperado.
Nos bastidores, comenta-se que Lula estaria disposto a realizar a ligação desde que o próprio Trump atenda.
Entretanto, em declarações públicas, membros do governo alertaram para a necessidade de cautela na abordagem.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que o diálogo entre chefes de Estado não pode ser tratado como “telemarketing”.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou que a negociação não pode ser marcada por “viralatismo” ou subserviência do Brasil (veja mais abaixo).
📌 Pontos Principais
Especialistas ouvidos pelo R7 classificam essa iniciativa como um gesto pragmático, que revela o esgotamento dos canais diplomáticos tradicionais sob a ótica da política externa.
Leia mais Narrativas estratégicas João Felipe Marques, cientista político pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e mestrando em Ciência Política pela UnB (Universidade de Brasília), avalia que o envolvimento pessoal do presidente indica que o tema ultrapassou a alçada ministerial e demanda capital político direto.
📊 Informação Complementar
“Esse movimento também reflete pressão do setor produtivo brasileiro, preocupado com prejuízos relevantes pela imposição das tarifas.
No plano doméstico, há um ganho político ao sinalizar disposição para o diálogo”, analisa.
Graduado em Relações Internacionais e especialista em análise de risco político pela FGV, João Cândido observa que essa postura, em tese, fortalece a posição brasileira no cenário internacional.
E reforça a imagem de um país que privilegia seus interesses estratégicos acima de disputas político-partidárias.
“Um telefonema para Trump não significa adesão ao trumpismo ou contradição às bandeiras democráticas defendidas por Lula.
Pelo contrário, demonstra que o Brasil está aberto a dialogar com todos os interlocutores relevantes, mesmo aqueles com quem houve embates públicos”, destaca.
‘Não é telemarketing’
Na manhã desta terça-feira (29), Gleisi Hoffmann conversou com jornalistas no Itamaraty e enfatizou que o Brasil tem insistido nas negociações comerciais.
“Queremos negociar e temos o que negociar.
Soberania e democracia brasileiras não estão em discussão.
O presidente Lula sempre deixou isso claro, não entra na mesa de negociação”, afirmou.
Indagada sobre a possível ligação, Gleisi ressaltou que “Trump não deseja conversar agora”.
“Não adianta o presidente Lula buscar um contato unilateralmente.
Uma negociação entre dois chefes de Estado exige preparação dos negociadores.
Não é telemarketing, em que se pega o telefone e ‘se colar colou’”, comparou Hoffmann.
Segundo ela, todo o processo demanda tempo.
“Lula nunca recusou diálogo, mas isso só ocorrerá quando os Estados Unidos também estiverem abertos à conversa e à negociação comercial”, avaliou.
A ministra reforçou que agentes brasileiros mantêm interlocução com o governo americano.
“O vice-presidente Geraldo Alckmin tem conversado com seu par nos Estados Unidos, o secretário de Comércio Howard Lutnick, e o ministro Fernando Haddad dialoga com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
Porém, ainda não recebemos retorno oficial”, lamentou.
Na mesma linha, Fernando Haddad defendeu que a postura brasileira não deve ser submissa.
“Quando dois chefes de Estado conversam, existe preparação prévia para evitar que um país subordine o outro.
Há protocolos mínimos, um arranjo diplomático.
São dois países soberanos; não é um correndo atrás do outro.
O Brasil é grande, e isso não é arrogância, mas uma postura digna à mesa de negociação”, explicou.
O ministro afirmou que outras conversas de Trump com líderes mundiais “não foram respeitosas”.
“É preciso preparação para garantir respeito, para que os dois povos se sintam valorizados e não haja sentimento de viralatismo ou subordinação.
Isso é respeito ao povo”, acrescentou.
Ainda segundo João Felipe Marques, o discurso de Haddad contrapõe duas abordagens diferentes.
Negociar não equivale a se submeter, e o governo tenta preservar autonomia política diante de um cenário delicado.
Marques acredita que Lula adota discurso firme em relação às tarifas, o que ajuda a protegê-lo contra acusações de subserviência.
“Enquanto houver reciprocidade e margem para barganha, dificilmente setores críticos colarão essa imagem.
A interpretação predominante deve ser a de um presidente que, mesmo em situação desfavorável, busca preservar espaço de manobra para o Brasil”, conclui.
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Fonte: r7
30/07/2025 06:53