Emparedado no Congresso, Planalto reage e articula “superfederação” Emissários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva procuraram lideranças de siglas aliadas após derrotas do governo no Legislativo atualizado Compartilhar notícia Após sofrer consecutivos revezes no Congresso e ver uma nova crise entre Poderes no horizonte, o Planalto retomou nesta semana uma ofensiva em busca de partidos para agregar numa superfederação de esquerda, visando à eleição de 2026.
Esse tipo de aliança impulsiona, justamente, a formação de bancadas para o Legislativo, onde o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva patina com uma base de apoio incerta e infiel, a despeito do loteamento de ministérios e cargos na máquina pública abrigando o Centrão.
O assunto foi levantado na última terça-feira (1º/7) por interlocutores do Planalto com lideranças partidárias.
A vontade de formar uma superfederação foi comunicada aos líderes do PCdoB e PV, que já estão numa aliança formal com o PT, e a legendas como PSB e PDT.
Segundo lideranças ouvidas pelo Metrópoles, o pedido de negociação não foi mal recebido, mas tampouco entusiasmou.
📊 Fatos e Dados
O PSB é o partido do vice-presidente Geraldo Alckmin e comanda os ministérios da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o do Empreendedorismo (MEMP).
Uma aliança formal com o PT, porém, é vista como impraticável.
Os socialistas reconhecem ser o elo mais fraco num eventual acordo e temem encolher no processo decisório diante do maior tamanho dos petistas em número de parlamentares.
A crise do Planalto com o Congresso resumida:
– O governo anunciou no fim de maio o aumento no IOF para arrecadar quase R$ 20 bilhões, visando atingir a meta fiscal de 2025.
– O Congresso reagiu mal à medida.
Após reunião com os presidentes da Câmara e do Senado, o Planalto recuou, diminuindo o reajuste.
– Executivo e Legislativo acordaram o envio de uma Medida Provisória (MP) para completar a verba que o Executivo deixaria de arrecadar com o recuo do IOF.
– O clima azedou pouco depois, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pautou e aprovou a urgência do projeto que derrubava o reajuste do imposto.
📊 Informação Complementar
– O requerimento foi aprovado em 16/6, com promessa de 15 dias para o governo encontrar uma saída política.
– Antes do fim desse prazo, Motta surpreendeu o Planalto e até parte dos líderes da Câmara ao pautar e aprovar a derrubada de todo o reajuste do IOF na quarta 25/6.
– O governo alardeia que, sem o dinheiro do IOF e da MP, vai precisar cortar programas sociais e bloquear emendas parlamentares.
– A derrota foi significativa para o governo, que só teve 98 votos, e marcou a primeira derrubada de um decreto presidencial desde o governo Collor.
PT e PSB já tentaram uma aliança em 2022, mas não deu certo.
Para os socialistas pesa, também, a negociação já avançada com o Cidadania para uma federação.
O acordo já está encaminhado pelas cúpulas dos partidos e deve ser anunciado em breve.
Já com o PDT a história é semelhante, mas ainda há um distanciamento ideológico maior que com o PSB.
Enquanto os socialistas se afastaram do Centrão e se aproximaram da esquerda, os pedetistas fizeram um movimento contrário.
Essa cisão foi ampliada com a demissão do presidente da sigla, Carlos Lupi, do Ministério da Previdência Social.
Ele deixou a pasta em meio ao escândalo da farra no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e a bancada desembarcou da base do presidente Lula.
A superfederação com partidos aliados seria uma alternativa para o presidente Lula ampliar sua base de apoio no Congresso, que tem lhe imposto derrotas.
Somente no mês passado, o Legislativo decidiu aumentar a conta de luz dos brasileiros e sustar o reajuste do IOF.
Como reação, o Planalto acionou o Supremo Tribunal Federal (STF).
Caso a Corte intervenha a favor do Executivo, uma nova crise entre os Poderes será deflagrada.
Desafios de uma federação
A vontade de formar uma superfederação é frequentemente externada por Lula a aliados.
A ideia encontra ressonância em ala expressiva do PT, que aguarda o processo de eleição interna para definir seu novo presidente.
A expectativa é que, confirmando-se o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva como novo cacique da sigla, ele possa conduzir as conversas para fechar um acordo.
Uma federação é uma aliança formal, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ela substituiu as antigas coligações e obriga as siglas federadas a atuarem como uma só por quatro anos.
Ou seja, os partidos federados precisam decidir em conjunto candidatos, sem possibilidade de rompimento.
Uma federação ajuda os partidos a elegerem mais deputados federais, estaduais e vereadores, pois permite a soma dos votos proporcionais.
Ao mesmo tempo, esse tipo de aliança engessa a escolha de um nome para concorrer nas eleições majoritárias.
Quem deseja concorrer ao cargo de prefeito, senador ou governador precisa negociar com todos os partidos federados sua candidatura, o que pode afastar nomes competitivos.
Fonte: metropoles
03/07/2025 07:11