Discursos de líderes políticos mexem com o dólar, mas efeito tende a ser passageiro Declarações de lideranças podem causar flutuações no câmbio, mas apenas ações concretas sustentam mudanças duradouras Economia|Clarissa Lemgruber, do R7, em Brasília LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA Produzido pela Ri7a – a Inteligência Artificial do R7 A fala do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a Assembleia-Geral da ONU, destacando a “excelente química” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, coincidiu com uma queda do dólar frente ao real.
A moeda fechou a R$ 5,27 na terça-feira (23), o menor patamar do ano e o mais baixo desde junho de 2024.
A cotação oscilou nos dias seguintes, e nessa sexta-feira (26) a moeda encerrou o pregão a R$ 5,33.
Os episódios reacendem a discussão sobre o peso das palavras de líderes políticos na formação das expectativas dos mercados e no câmbio.
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Para Ricardo Inglez de Souza, mestre em Direito Econômico pela PUC-SP e especialista em Comércio Internacional, discursos políticos têm impacto imediato, mas geralmente especulativo.
“O discurso cria expectativa e o mercado tenta antecipar seu efeito, mesmo sendo incerto.
Porém, é a implementação efetiva de políticas públicas ou das ações contidas nos discursos que podem tornar o efeito sobre o câmbio duradouro”, explica.
💥 Impacto e Consequências
Efeito das expectativas
Segundo ele, a cotação do dólar acaba sendo afetada quando as falas diplomáticas sinalizam alguma medida concreta capaz de influenciar o fluxo de investimentos.
“Essa expectativa gera especulações e, com elas, a flutuação, para cima ou para baixo, do valor da moeda norte-americana”, completa.
O advogado lembra que o perfil dos presidentes pesa mais do que declarações isoladas.
“Trump já demonstrou que não tem receio de adotar medidas drásticas para defender os interesses dos EUA.
Lula indica que o Brasil não deixará de se alinhar aos Brics.
Nesse contexto, qualquer declaração beligerante indica possíveis medidas de disputa, enquanto falas como a da ‘química’ sugerem cenário mais estável”, avalia.
Exemplos recentes reforçam o argumento.
Inglez cita os anúncios de tarifas feitos pelos Estados Unidos contra diversos países, que tiveram efeito imediato nas moedas locais, além do impacto de propostas internas no Brasil, como a cobrança de impostos sobre dividendos, que costuma gerar volatilidade por sinalizar possível retirada de investimentos.
Movimentos de curto prazo João Alfredo Lopes Nyegray, doutor em Internacionalização e Estratégia e professor de Geopolítica e Negócios Internacionais da PUC-PR, reforça que falas de chefes de Estado mexem com o câmbio por três canais clássicos: sinalização política, prêmio de risco e posicionamento de mercado.
“O comentário de Trump sobre a ‘excelente química’ com Lula opera sobretudo no primeiro e no segundo canais: reduz, na margem, a probabilidade implícita de confronto prolongado entre EUA e Brasil e, com isso, comprime o prêmio de risco Brasil na cabeça dos gestores globais”, afirma.
De acordo com Nyegray, esse “alívio” melhora a disposição tática para carregar reais, estimula fechamento de posições vendidas e, em alguns casos, desencadeia ordens automáticas de compra, acelerando a queda do dólar no dia.
“Mas historicamente esses movimentos provocados por discursos tendem a ser passageiros.
O câmbio, no médio e longo prazo, se ancora em fundamentos como diferencial de juros, termos de troca e sustentabilidade fiscal.
Ou seja, falas sozinhas dificilmente sustentam um novo patamar do real frente ao dólar”, explica.
O especialista lembra que os efeitos só se tornam consistentes quando declarações se traduzem em medidas concretas.
Sem isso, explica, o impacto tende a “desaparecer em dias ou semanas”.
Nyegray cita como exemplos a guerra comercial entre EUA e China, quando falas conciliatórias de Trump derrubavam o dólar no curto prazo, mas só recuos tarifários efetivos davam sustentação.
“No Brasil, discursos presidenciais sobre meta fiscal ou críticas ao Banco Central fizeram preço no dólar no curtíssimo prazo; quando o Congresso entregou o novo arcabouço fiscal e o Executivo sinalizou primário mais crível, o real se apreciou de modo mais consistente.
Isso mostra que quando a retórica se soma a medidas concretas, o efeito no câmbio deixa de ser passageiro.”
Perguntas e respostas
Qual foi o impacto do discurso de Donald Trump na cotação do dólar?
O discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a Assembleia-Geral da ONU, resultou em uma queda do dólar frente ao real, que fechou a R$ 5,27, o menor patamar do ano e o mais baixo desde junho de 2024.
Como os discursos políticos influenciam o mercado e o câmbio?
Discursos políticos têm um impacto imediato, mas geralmente especulativo.
Eles criam expectativas que o mercado tenta antecipar, mesmo que a efetiva implementação de políticas públicas seja o que realmente pode sustentar mudanças no câmbio.
📊 Informação Complementar
O que diz Ricardo Inglez de Souza sobre o impacto das falas diplomáticas?
Ricardo Inglez de Souza afirma que a cotação do dólar é afetada quando discursos sinalizam medidas concretas que podem influenciar o fluxo de investimentos.
Essas expectativas geram especulações que podem levar à flutuação do valor da moeda norte-americana.
Qual é a importância do perfil dos presidentes nas declarações feitas?
O perfil dos presidentes tem um peso significativo nas declarações.
Por exemplo, Trump é conhecido por adotar medidas drásticas para defender os interesses dos EUA, enquanto Lula demonstra que o Brasil se alinha aos Brics.
Declarações beligerantes podem indicar disputas, enquanto falas positivas sugerem um cenário mais estável.
Quais exemplos recentes ilustram o impacto das falas políticas nas moedas?
Inglez cita anúncios de tarifas pelos Estados Unidos que tiveram efeitos imediatos nas moedas locais e propostas internas no Brasil, como a cobrança de impostos sobre dividendos, que geram volatilidade ao sinalizar possíveis retiradas de investimentos.
Como as falas de chefes de Estado afetam o câmbio segundo João Alfredo Lopes Nyegray?
João Alfredo Lopes Nyegray explica que as falas de chefes de Estado influenciam o câmbio por três canais: sinalização política, prêmio de risco e posicionamento de mercado.
O comentário de Trump sobre a “excelente química” com Lula reduz a probabilidade de confronto entre EUA e Brasil, o que pode comprimir o prêmio de risco Brasil.
Os efeitos das declarações políticas são duradouros?
Historicamente, os movimentos provocados por discursos tendem a ser passageiros.
O câmbio se ancorará em fundamentos como diferencial de juros e sustentabilidade fiscal, e as falas sozinhas dificilmente sustentam um novo patamar do real frente ao dólar.
Quando os efeitos das declarações se tornam consistentes?
Os efeitos se tornam consistentes quando as declarações se traduzem em medidas concretas.
Sem isso, o impacto tende a desaparecer em dias ou semanas.
Que exemplos Nyegray cita sobre a relação entre discursos e câmbio?
Nyegray menciona a guerra comercial entre EUA e China, onde falas conciliatórias de Trump derrubavam o dólar no curto prazo, mas apenas recuos tarifários efetivos sustentavam essa queda.
No Brasil, discursos sobre meta fiscal ou críticas ao Banco Central afetaram o preço do dólar rapidamente, mas a apreciação do real se tornou mais consistente após a entrega de um novo arcabouço fiscal pelo Congresso.
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Fonte: r7
27/09/2025 08:58