Desvendando a mente adversária
O presidente americano tem princípios?
Tem.
São inabaláveis?
🧠 Especialistas Analisam veja
Não
Mauricio Macri contou um episódio acontecido em 2018, quando ele era presidente da Argentina e recebeu uma visita de Donald Trump em seu primeiro mandato.
Os dois já se conheciam bem: o pai de Macri, um dos homens mais ricos da Argentina, havia mandado o filho fazer um estágio com o empreendedor imobiliário de Nova York, seu amigo.
Macri o recebeu no gabinete presidencial na Casa Rosada e os dois olharam juntos o mapa da Argentina.
🔍 Detalhes Importantes
“O que é isso?”, perguntou Trump, mostrando a estreita faixa que aparece a oeste do país, junto ao Pacífico.
“É o Chile”, respondeu Macri.
“Vocês deveriam conquistar o Chile e assim teriam saída para dois oceanos”, sugeriu Trump.
🌍 Contexto e Relevância
O ex-presidente argentino deu risada ao contar a história.
O episódio ajuda a entender como funciona a cabeça de Trump, conhecimento relevante para quem tem que negociar acordos em nome do interesse coletivo.
Conhecer o adversário é um princípio tão antigo quanto a arte da estratégia, seja na guerra, seja na diplomacia.
Trump tem uma visão de mundo de incorporador imobiliário.
Ou, de um ponto de vista dos críticos mais exaltados, de Don Corleone: “esse terreno em Nova York precisa ser comprado de qualquer maneira para virar um grande lançamento.
Se eu já for o mais rico e poderoso do pedaço, melhor ainda, não resistirão a minhas propostas”.
É uma visão que, quando envolve Estados, remete ao velho imperialismo em sua forma original, a do século XIX para o XX, quando o simples surgimento de navios de guerra de uma potência na costa de um país incauto já bastava para induzi-lo a acordos comerciais, abertura à influência externa ou o que quer que passasse pela cabeça de quem dava as cartas.
Obedecia quem tinha juízo ou desobedecia quem não tinha noção da disparidade de forças.
Um dos maiores exemplos da diplomacia da canhoneira foi a obscura Guerra Anglo-Zanzibariana, de 1896.
📊 Informação Complementar
O autoproclamado sucessor do sultão das ilhas, que ficam hoje em território da Tanzânia, parecia não ter simpatia pelas exigências do colonialismo britânico.
Insistiu que o poder era dele, mandou erguer barricadas no palácio e enfrentou uma força naval de cinco embarcações da maior potência marítima da época.
Foi a guerra mais curta da história, com duração entre 38 e 45 minutos.
“De Francis Bacon: ‘Triste não é mudar de ideia, triste é não ter ideias para mudar’ ”
Trump já mostrou que também sabe mobilizar as canhoneiras — no caso, os bombardeiros B-2 enviados para destruir cirurgicamente, em 25 minutos, instalações nucleares no Irã.
Mas também deixou de lado, pelo menos temporariamente, ideias estapafúrdias como tomar a Groenlândia ou absorver o Canadá.
Pensava nas vantagens estratégicas dos dois gigantescos territórios, da mesma forma que viu o Chile no caminho da Argentina para o Pacífico.
Agora, Trump ameaça a Rússia com tarifas secundárias se não parar de atacar a Ucrânia, um país que havia traído e abandonado.
“Triste não é mudar de ideia, triste é não ter ideias para mudar.” Qual dos dois Trump, o imperialista à la Corleone ou o que muda de ideias, como na frase famosa de Francis Bacon, enfrentaremos para desatar o nó em que ele colocou o Brasil, sem sofrermos prejuízos daninhos para o país inteiro nem ficarmos na posição de resistência autodestrutiva do sultão de Zanzibar?
Publicado em VEJA de 18 de julho de 2025, edição nº 2953
Fonte: veja
20/07/2025 10:27