Críticas à ONU expõem crise do multilateralismo e impasses na organização Trump foi um dos líderes que criticou a Organização durante a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas Internacional|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA Produzido pela Ri7a – a Inteligência Artificial do R7 Em quase uma hora de discurso na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou parte do tempo para fazer críticas à organização, principalmente como mediadora de conflitos.
Apesar da repercussão dos comentários, especialistas entendem que há um comprometimento na relevância da ONU para o enfrentamento de crises globais, causadas, principalmente, pelo enfraquecimento do multilateralismo, da questão orçamentária e dos impasses políticos e ideológicos.
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Na fala, o presidente americano criticou a administração da organização e se disse responsável por mediar e terminar sete conflitos ao redor do mundo.
Segundo ele, a ONU teria um “ótimo potencial, mas não está cumprindo”.
“Qual é o propósito das Nações Unidas?
Na maioria dos casos, pelo menos por enquanto, tudo o que parecem fazer é escrever uma carta com palavras muito fortes e nunca dar seguimento a essa carta.
São palavras vazias, e palavras vazias não resolvem guerras”, declarou.
Em um discurso semelhante, o presidente da Argentina, Javier Milei, também fez críticas à organização.
Na assembleia, o argentino chegou a argumentar que a ONU substitui um modelo de “cooperação” por um de “governo supranacional”, buscando impor regras aos cidadãos.
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Milei sugeriu, ainda, uma reestruturação na organização, com trocas na administração e encerramento de programas.
Para a professora de relações internacionais da ESPM Denilde Holzhacker, o enfraquecimento do multilateralismo abriu espaço para iniciativas unilaterais e para a criação de fóruns paralelos, reduzindo a centralidade da ONU.
O cenário atual é marcado por um impasse quase permanente nos principais órgãos da organização — o que compromete sua relevância no enfrentamento das crises globais.
“No entanto, a crítica de Trump e Milei não se limita à questão orçamentária e à alegada ineficiência da ONU.
Para eles — e, de modo mais amplo, para líderes da direita conservadora e da extrema-direita —, a ONU deixou de representar os valores que defendem, sendo vista como uma agência promotora de pautas consideradas ‘anti-conservadoras’ ”, frisou.
O cientista político do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha Maurício Santoro explica que, atualmente, a organização vive um momento de “bastante debilidade”.
Segundo o especialista, a dificuldade de mediação diplomática, devido ao aumento da tensão entre potências, somado à ascensão de movimentos políticos nacionalistas e céticos, contribuiu para o enfraquecimento da organização.
“Então, houve a sensação desses movimentos políticos muito nacionalistas, que são extremamente céticos de organizações multilaterais como a ONU.
Isso é particularmente forte hoje nos Estados Unidos, porque o governo americano é o maior financiador individual da ONU, financia mais de 20% do orçamento das Nações Unidas.
E o Trump tem questionado muito, né?
Tem ameaçado ali cortar verbas”, observou.
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Atuação em conflitos
O enfraquecimento da ONU não é recente e vem se aprofundando nos últimos anos, em parte, pelo corte do financiamento pelos EUA para a manutenção de missões e projetos.
Na visão de Maurício Santoro, houve falhas sistemáticas da organização em prevenir ou mitigar conflitos, como da Ucrânia e do Oriente Médio.
Assim, essa fragilidade põe em risco os próprios propósitos da ONU, que incluem a prevenção de conflitos e a busca de soluções pacíficas.
“Nos conflitos atuais, especialmente em Gaza, temos assistido ao colapso da ajuda humanitária e à falta de apoio para que as próprias equipes da ONU consigam atuar.
Como já ocorreu no passado — em casos como os massacres em Ruanda e na Bósnia —, a organização novamente se mostra incapaz de impedir tragédias.
Hoje, porém, enfrenta não apenas críticas pela inação, mas também questionamentos crescentes sobre sua legitimidade", ressalta Holzhacker.
EUA e China
Com o eventual corte de verbas dos EUA para as Nações Unidas, potências igualmente fortes, como a China, por exemplo, pode aproveitar a oportunidade para tentar preencher esse “vácuo”.
Para Santoro, caso o governo chinês decida ser o maior financiador da organização, pode ser que ocorra uma mudança nas prioridades da ONU.
“A gente teria uma ONU mais alinhada aos interesses de um estado autoritário como o chinês.
O que enfraqueceria muito diversas maneiras de atuação, diversas possibilidades de atuação, principalmente tudo aquilo que diz respeito a direitos humanos e defesa da democracia”, aponta.
Na contramão dos EUA, a China se mostrou disposta a assumir um compromisso com pautas ambientais e defendeu a manutenção do multilateralismo.
Como funciona a Assembleia?
Anualmente, a assembleia realiza reuniões em sessões regulares de setembro a dezembro, onde são tratados assuntos específicos da agenda, que levam à adoção de resoluções com poder político, mas não de lei.
Já os encontros com os chefes de Estado acontecem no final de setembro.
A tradição do Brasil de abrir o Debate Geral é uma honraria, não institucionalizada, concedida ao país após a participação do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha na assembleia.
Aranha foi um dos principais responsáveis pela aprovação da resolução que previa a partilha da Palestina e a criação do Estado de Israel.
A disposição dos assentos no Salão da Assembleia Geral muda a cada sessão.
Este ano, por exemplo, o Níger ocupará o primeiro assento no Salão, incluindo nas Comissões Principais (seguido por todos os outros países, em ordem alfabética, em inglês).
Entre as decisões importantes feitas na assembleia, estão: – Nomear o secretário-geral da ONU com base na recomendação do Conselho de Segurança; – Eleger os membros não permanentes do Conselho de Segurança; – Aprovar o orçamento da ONU; – O Conselho de Segurança é um dos principais órgãos da ONU, formado por cinco membros permanentes e dez membros rotativos.
Ele tem por objetivo decidir sobre questões de guerra e paz, como a imposição de sanções contra países e a autorização de intervenções militares.
No caso do Conselho, as resoluções são vinculantes — ou seja, têm força de lei, e o descumprimento acarreta sanções.
Perguntas e Respostas
Quais críticas Donald Trump fez à ONU durante a 80ª Assembleia Geral?
Durante seu discurso, Donald Trump criticou a ONU, especialmente sua atuação como mediadora de conflitos.
Ele afirmou que a organização tem um “ótimo potencial, mas não está cumprindo” e questionou a eficácia das ações da ONU, alegando que muitas vezes se limitam a emitir declarações sem seguimento prático.
Qual é a opinião de especialistas sobre a relevância da ONU atualmente?
Especialistas afirmam que a ONU enfrenta um comprometimento em sua relevância devido ao enfraquecimento do multilateralismo, questões orçamentárias e impasses políticos.
A professora Denilde Holzhacker destacou que o cenário atual é marcado por um impasse quase permanente nos principais órgãos da organização, o que compromete sua eficácia no enfrentamento de crises globais.
O que Javier Milei disse sobre a ONU?
O presidente da Argentina, Javier Milei, também criticou a ONU, argumentando que ela substitui um modelo de “cooperação” por um de “governo supranacional”, impondo regras aos cidadãos.
Ele sugeriu uma reestruturação na organização, incluindo mudanças na administração e o encerramento de programas.
Como o enfraquecimento do multilateralismo afeta a ONU?
O enfraquecimento do multilateralismo tem aberto espaço para iniciativas unilaterais e a criação de fóruns paralelos, reduzindo a centralidade da ONU.
O cientista político Maurício Santoro mencionou que a organização vive um momento de “bastante debilidade”, com dificuldades de mediação diplomática e aumento da tensão entre potências.
Quais são as consequências do corte de financiamento dos EUA para a ONU?
O corte de financiamento dos EUA, que é o maior financiador da ONU, tem contribuído para o enfraquecimento da organização.
Santoro alertou que, caso a China se torne o maior financiador, isso pode resultar em uma ONU mais alinhada aos interesses de um estado autoritário, o que poderia comprometer a defesa dos direitos humanos e da democracia.
Qual é a tradição do Brasil na Assembleia Geral da ONU?
A tradição do Brasil em abrir o Debate Geral na Assembleia Geral é uma honraria não institucionalizada, concedida ao país após a participação do diplomata Oswaldo Aranha, que foi fundamental na aprovação da resolução que previa a partilha da Palestina e a criação do Estado de Israel.
Como são tratadas as resoluções na Assembleia Geral da ONU?
As resoluções adotadas na Assembleia Geral têm poder político, mas não são vinculativas.
No caso do Conselho de Segurança, as resoluções são vinculativas e o descumprimento pode acarretar sanções.
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Fonte: r7
27/09/2025 08:58