O número de usuários de Profilaxia Pré-exposição (PrEP) aumentou para 107.795 pessoas no Brasil, segundo dados do Painel PrEP, do Ministério da Saúde. O número é o dobro comparado a 2022, quando foram contabilizados aproximadamente 50 mil usuários da medicação.
A PrEP é uma estratégia de prevenção da infecção pelo HIV e consiste em tomar medicamentos antes da relação sexual para que o organismo esteja preparado para enfrentar um possível contato com o vírus e é distribuído gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“O PrEP funciona como uma espécie de barreira antecipada à entrada de vírus no corpo, com a medicação no corpo circulando, mesmo que a pessoa tenha contato de risco, essa pessoa não contrai o vírus. O vírus morre antes de penetrar na célula e se replicar no DNA”, explica Antônio Carlos Bandeira, infectologista pelo Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
De acordo com o médico, a PrEP faz parte da estratégia global de reduzir em 90% as novas infecções pelo vírus HIV. “Então com isso é ideia é que as pessoas que possam ter contato de risco se previnam antecipadamente em relação à exposição ao vírus HIV. Assim a gente reduz as novas taxas de contaminação”, conclui o infectologista.
Na Bahia, de acordo com o Portal da PrEP, disponível no site do Governo Federal (gov), atualmente, existem 3.642 usuários de PrEP e 39 unidades dispensadoras de PrEP no Estado. No ano anterior o total de usuários era de aproximadamente 2 mil usuários.
O perfil dos usuários da PrEP na Bahia aponta que 84,5 são homossexuais cis. Além disso, essa população está dividida em parda (45%), preta (31%), branca/amarela (23%) e indígena (menos de 1%). A maioria dos usuários estão divididos nas faixas etária de 25 a 29 anos e 30 a 39 anos.
O estudante Cícero Proença, homem trans, é um dos usuários de PrEP que residem em Salvador. Informaram o que motivou o início do uso da medicação.
“Comecei a usar a PrEP porque eu me relacionei com uma pessoa e passei por uma situação de abuso da pessoa não usar camisinha. A partir dessa situação percebi que não dá para só confiar nas outras pessoas. Eu achei melhor ter outra forma de me previnir”, relatou.
“Eu descobri a PrEP porque alguns amigos meus cis, gays e bissexuais já faziam o uso da PrEP e um deles me falou sobre um homem trans que fazia uso da PrEP e nesse momento entendi que meu corpo também era um corpo eletivo para PrEP”, acrescentou.
Cícero ainda contou que faz uso da PrEP injetável, uma injeção de dois em dois meses.
À Secretaria Municipal de Saúde (SMS) divulgou que na capital baiana o total é de 1.796 usuários, que têm a PrEP dispensada em uma das cinco unidades municipais. A capital baiana também possui duas unidades dispensadoras estaduais.
As unidades dispensadoras são: Ambulatório de Atenção Especializada em Saúde LGBT, na Carlos Gomes; o Centro Centro Estadual Especializado em Diagnóstico Assistência e Pesquisa (Cedap), no Garcia; O Instituto Couto Maia, em Cajazeiras 2 e nas unidades do Serviço de Atenção Especializada (SAE) na Liberdade, em Nazaré, Dendezeiros e na Unidade Dispensadora de Medicamentos (UDM) no Comércio.
Além de Salvador, a Bahia ainda conta com unidades dispensadoras em Alagoinhas, Amargosa, Barreiras, Lauro de Freitas, Luis Eduardo Magalhães, Paulo Afonso, Simões Filho, Teixeira de Freitas e em outros municípios que podem ser consultados no Portal da PrEP.
A PrEP tem reduzido os novos casos de infecção por HIV e registrou uma queda 8,5% em 2022 comparado aos registros de 2012, segundo dados do Ministério da Saúde.
Outro fator lembrado por Antônio Bandeira é a prevenção combinada com a PrEP na prevenção contra as demais Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST´s). “O ideal é que a pessoa que possa se expor a atividade sexual ela não só faça o uso da PrEP, mas também faça o uso de preservativo”, destacou o médico.
“A PrEP só funciona prevenindo a infecção pelo vírus do HIV, por isso não se consegue prevenir outros tipos de infecção como sífilis, gonorréia, clamídia, HPV, hepatites, além também de gravidez indesejada”, completou o especialista.
Qualquer pessoa que esteja exposta à atividades sexuais de risco pode fazer o uso da PrEP, trabalhadoras e trabalhadores do sexo, pessoas expostas sexualmente em situação de precariedade, pessoas que frequentemente deixam de usar camisinha em relações sexuais, pessoas que fazem uso de Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP).
“Mesmo fazendo o uso da PrEP eu não deixo de usar camisinha. Sou um homem trans ainda tenho também o risco da gravidez e de outras IST’s. A PrEP só previne o HIV e existem outras IST’s que podem ser transmitidas”, relatou Cícero Proença.
Além de pessoas que apresentam histórico de episódios de IST´s e pessoas adeptas à práticas sexuais sob a influência de drogas psicoativas (metanfetaminas, Gama-hidroxibutirato (GHB), MDMA, cocaína, poppers) com a finalidade de melhorar e facilitar as experiências sexuais, também podem usar os medicamentos.
“Vale lembrar que o HIV não é exclusivo de transmissão entre homossexuais, ele também é transmitido entre a população heterossexual também”, comentou Antônio Bandeira sobre o uso da PrEP não ser restrito a certos grupos, pois o que vale é a exposição a atividade sexual de risco.
O paciente que procura o uso da PrEP pode chegar nas unidades de dispensação com encaminhamento de outro médico ou pode procurar diretamente nas unidades o acompanhamento para o uso do medicamento.
“O paciente é monitorado, passa por uma triagem e quando HIV negativo tem a PrEP dispensada e a cada dois meses quando a pessoa vai buscar o medicamento novamente é feito um teste rápido”, explica o infectologista.