E se os Estados Unidos invadirem a Venezuela?
Disparidade militar entre EUA e Venezuela é abissal: enquanto Washington tem as Forças Armadas mais poderosas do mundo, Caracas ocupa apenas a 50ª posição.
Crédito: Amanda Botelho e Gabriella Lodi/Estadão A vencedora do Prêmio Nobel da Paz fez sua apresentação por vídeo ao vivo em uma conferência de negócios em Miami, da qual participaram executivos e políticos americanos, incluindo o presidente Trump.
“Estou falando de uma oportunidade de US$ 1,7 trilhão”, disse María Corina Machado, principal líder da oposição da Venezuela, no mês passado, semanas depois de ganhar o prêmio da paz por desafiar Nicolás Maduro, o líder autocrático do país.
Ela destacou as enormes reservas de petróleo e gás da Venezuela — “Vamos abrir tudo, upstream, midstream, downstream, para todas as empresas” —, bem como seus minerais e infraestrutura de energia.
Sua mensagem tem sido inabalável desde o início deste ano, quando ela se gabou do “potencial infinito” de seu país para as empresas americanas em um podcast apresentado pelo filho mais velho do presidente, Donald Trump Jr.
Ela teve uma audiência receptiva.
O presidente e seus assessores insistiram publicamente que suas operações militares letais em torno da Venezuela e a campanha de pressão contra Maduro têm como objetivo principal proteger os americanos do tráfico de drogas.
Mas a Venezuela não é produtora de drogas, e os narcóticos contrabandeados pelo país vão principalmente para a Europa.
📊 Fatos e Dados
Nos bastidores, os funcionários do governo também se concentraram intensamente nas reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do mundo.
Sua importância é evidente nas negociações secretas entre autoridades americanas e Maduro sobre petróleo e nas conversas que os assessores e aliados de Trump tiveram com Machado e outras figuras da oposição venezuelana.
Trump deixou claro publicamente seu interesse em controlar as reservas da Venezuela.
Em um discurso para republicanos na Carolina do Norte em 2023, quatro anos depois de apoiar esforços durante seu primeiro mandato para derrubar Maduro, Trump disse: “Quando eu saí, a Venezuela estava pronta para entrar em colapso.
Nós teríamos assumido o controle, teríamos obtido todo aquele petróleo, que ficava bem ao lado”.
O papel do petróleo nas tensões crescentes entre Maduro e Trump foi ressaltado pela dramática apreensão pelos EUA, na quarta-feira, de um petroleiro que cruzava o Mar do Caribe transportando petróleo bruto para Cuba e China.
Trump disse que ficaria com a carga, embora sua autoridade legal para fazê-lo seja questionável.
A ação foi uma escalada acentuada na campanha de meses de Trump contra Maduro, que incluiu 25 ataques a barcos que mataram pelo menos 95 pessoas, atos que muitos especialistas jurídicos consideram ilegais.
A Venezuela e seu petróleo estão no centro de duas das prioridades de segurança nacional declaradas por Trump: o domínio dos recursos energéticos e o controle do Hemisfério Ocidental.
A Venezuela possui cerca de 17% das reservas conhecidas de petróleo do mundo, ou mais de 300 bilhões de barris, quase quatro vezes a quantidade dos Estados Unidos.
E nenhuma nação tem uma presença maior na indústria petrolífera da Venezuela do que a China, a superpotência cuja imensa presença comercial no hemisfério ocidental o governo Trump pretende reduzir.
“Quando o presidente Trump fala sobre a Venezuela e outros países semelhantes, ele sempre enfatiza a importância de os EUA terem acesso a esses recursos petrolíferos”, disse Francisco R.
Rodríguez, professor da Universidade de Denver que estuda a economia política da Venezuela.
Petróleo sob pressão Nos últimos meses, os assessores de Trump debateram como obter maior acesso ao petróleo da Venezuela para as empresas americanas, dada a hostilidade de Maduro e a presença da China, afirmam autoridades atuais e ex-autoridades.
Richard Grenell, enviado especial para a Venezuela e presidente do Kennedy Center, liderou as negociações com o objetivo de chegar a um grande acordo com Maduro.
O líder venezuelano fez uma oferta a Trump que incluía a abertura da indústria petrolífera do país aos americanos, além do acesso limitado concedido à Chevron, que opera lá com uma licença confidencial recém-prorrogada pelo governo dos EUA.
Trump rejeitou a oferta, porque outros assessores importantes argumentaram com sucesso que Maduro não é confiável e está ganhando tempo.
Esse grupo, liderado por Marco Rubio, secretário de Estado e conselheiro de segurança nacional, tem pressionado pela destituição forçada de Maduro.
Eles argumentam que um líder conservador e orientado para o livre mercado — ou seja, Machado — favoreceria as empresas americanas e limitaria os investimentos chineses.
Trump sugeriu a Maduro, em uma ligação telefônica no mês passado, que ele deixasse o cargo.
Maduro se recusou a abrir mão do poder tão cedo, apesar do aumento das forças militares dos EUA no Caribe e das repetidas ameaças de Trump de ir além dos ataques a barcos e atingir alvos dentro da Venezuela.
A apreensão do petroleiro e as novas sanções ao setor petrolífero da Venezuela têm como objetivo abalar a teimosia de Maduro, demonstrando que os Estados Unidos estão dispostos a sufocar a maior fonte de renda do país, disseram autoridades atuais e ex-autoridades.
Os Estados Unidos provavelmente apreenderão mais petroleiros que transportam petróleo venezuelano em breve, disseram autoridades americanas.
Assim como fez na semana passada, o governo dos EUA poderia justificar quaisquer apreensões futuras citando o histórico dos petroleiros que transportam petróleo do Irã, que está sob um conjunto de sanções mais rigorosas do que a Venezuela.
Os Estados Unidos apreenderam apenas alguns petroleiros nos últimos anos.
Todas essas ações foram baseadas na suspeita de que o petróleo iraniano estava sendo usado para financiar a Guarda Revolucionária Islâmica, um braço das forças armadas iranianas que o primeiro governo Trump designou como organização terrorista estrangeira, disse Edward Fishman, ex-especialista em sanções do Departamento de Estado.
Mais algumas apreensões de petroleiros que transportam petróleo venezuelano pelos EUA podem levar as empresas a decidirem evitar o país e a uma consequente perda de receitas do petróleo, disse Tom Warrick, ex-funcionário do Departamento de Estado que também trabalhou como advogado da indústria petrolífera.
“A estratégia do governo Trump agora se revela como claramente voltada para esse fluxo de caixa”, disse ele.
“A Venezuela tem uma quantidade relativamente pequena de dinheiro em caixa, então a perda desse petroleiro começará a causar danos rapidamente.” Trump não falou publicamente sobre ajudar as empresas americanas a obter uma fatia maior do petróleo da Venezuela como objetivo dessa campanha.
Mas ele frequentemente mencionou isso em particular, disseram pessoas familiarizadas com as conversas.
Maduro também vê o petróleo da Venezuela como uma importante ferramenta geopolítica.
Os líderes do país dependem das compras de petróleo da China como um baluarte contra as sanções econômicas impostas pelo primeiro governo Trump e mantidas pelo presidente Joseph R.
Biden Jr.
Em abril, Delcy Rodríguez, vice-presidente da Venezuela, pediu aos líderes chineses durante uma visita a Pequim que fizessem maiores investimentos na indústria petrolífera de seu país e comprassem mais petróleo bruto.
A China já é responsável por 80% das compras de petróleo venezuelano.
Em negociações este ano, autoridades americanas negociaram com Maduro possíveis acordos para expulsar as empresas petrolíferas chinesas e russas da Venezuela e abrir um papel maior para as empresas americanas.
A China reduziu seus investimentos diretos na indústria venezuelana nos últimos anos.
Maduro parecia interessado em atrair mais investimentos americanos, disseram autoridades americanas.
Mas ele permaneceu inflexível em manter o poder, então as negociações ficaram paralisadas.
Perfuração em tempo de guerra Trump autorizou a CIA a conduzir operações secretas na Venezuela e pode decidir destituir Maduro violentamente, usando a agência como ponta de lança, as Forças Armadas dos EUA ou ambos.
📊 Informação Complementar
No entanto, muitos especialistas em Venezuela esperam que as consequências de tal ação sejam caóticas.
Autoridades americanas de várias agências do primeiro governo Trump chegaram a essa conclusão em jogos de guerra em 2019.
A turbulência em uma Venezuela pós-Maduro poderia complicar o desejo e a capacidade das empresas americanas de expandir sua presença no país.
Nenhuma grande empresa petrolífera ocidental entrou imediatamente no Iraque ou na Líbia após as intervenções militares dos EUA que derrubaram os governos e desencadearam guerras civis.
Levou anos para que as empresas maiores começassem a operar nesses países.
Em contrapartida, as empresas petrolíferas chinesas assinaram contratos para operar nos campos do sul do Iraque durante a guerra civil e, em geral, têm uma tolerância muito maior ao risco de estar em zonas de conflito.
Leia também O apetite das grandes empresas americanas por entrar na indústria venezuelana pode muito bem depender se a campanha de pressão dos EUA e quaisquer operações militares resultarão em caos ou estabilidade.
“As empresas petrolíferas americanas trabalham em algumas regiões bastante perigosas, mas o que lhes interessa é o resultado financeiro”, disse Oliver B.
John, que trabalhou como diplomata americano em questões econômicas nos países árabes do Golfo.
A Chevron opera na Venezuela há um século e é a única empresa americana que permaneceu no país quando o governo venezuelano obrigou as empresas ocidentais, décadas atrás, a se tornarem sócias minoritárias em joint ventures com a empresa estatal de petróleo Petróleos de Venezuela, S.A., ou PDVSA.
A maior empresa estrangeira com investimentos e operações na indústria venezuelana é a China National Petroleum Corporation, ou CNPC, uma empresa estatal que faz joint ventures com a PDVSA.
Mas, desde 2019, ela tem assumido um papel mais passivo na Venezuela para evitar violar as sanções dos EUA.
No ano passado, uma empresa privada chinesa, a China Concord Resources Corporation, assinou um contrato de 20 anos com a PDVSA para investir mais de US$ 1 bilhão no desenvolvimento de campos petrolíferos venezuelanos.
Atualmente, o petróleo venezuelano que vai para a China é resultado de compras feitas por empresas privadas chinesas, disse Rodríguez.
As empresas energéticas nacionais chinesas estavam recebendo petróleo venezuelano como resultado da aceitação de petróleo por bancos estatais chineses como pagamento de empréstimos ao governo venezuelano.
Mas a Venezuela deixou de fazer os pagamentos há anos — a dívida era de US$ 19 bilhões em 2020 — e a China parou de conceder empréstimos ao país.
Fonte: estadao
17/12/2025 08:06









