BRASÍLIA — O coronel Flávio Peregrino, assessor do general Walter Braga Netto, guardou em seu telefone celular mensagens e documentos com anotações sobre a trama golpista articulada no final de 2022 por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O Estadão revelou, nesta segunda-feira, 11, que um dos documentos apontava que Jair Bolsonaro “sempre quis” permanecer no governo mesmo após a derrota na eleição.
O documento foi redigido por Peregrino em 28 de novembro de 2024 e também criticava a falta de lealdade do ex-presidente com os militares, por tentar jogar neles a responsabilidade pelos planos golpistas.
Em outro trecho, o coronel criticou a versão apresentada por Bolsonaro de que não sabia de nada sobre as ações golpistas que estavam em curso no final de 2022.
Peregrino escreveu que o ex-presidente “ou sabia ou desconfiava” e disse ainda que Bolsonaro “pagou para ver se dava certo” o golpe.
Procurada, a defesa de Braga Netto não quis se manifestar sobre as mensagens.
O advogado de Bolsonaro não respondeu.
O advogado Luís Henrique Prata, que defende o coronel Peregrino, disse que as anotações foram “formuladas com base na liberdade de expressão e no contexto da assessoria de um dos envolvidos” e citou que o principal ponto era a “lealdade dos militares na busca de soluções constitucionais naquele período e ao longo de todo governo”.
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Leia também Leia a íntegra do documento extraído pela Polícia Federal do celular de Peregrino, apreendido em dezembro de 2024: “Introdução – Poucas defesas estão organizadas, unindo a parte jurídica a uma assessoria de comunicação, já que este processo não é só jurídico e sim político e midiático.
– Mesmo assim, a defesa técnica do B, várias vezes é surpreendida pelas notícias sobre ele na imprensa
– Na última 6ª f, plantaram na Andreia Sadi a tese do “golpe dentro do golpe”.
Usando as informações soltas do inquérito para colocar na conta dos GH e GBN um movimento conspiratório para derrubar o B.
Oportunismo e o que mostra que tudo será feito para livrar a cabeça do B.
Estão colocando o projeto político dele acima das amizades e da lealdade que um Gen H sempre demonstrou ao B.
– Por isso, o General Braga Netto (e pensando no Gen Heleno também) soltou aquela nota em que destaca que nunca existiu este pensamento de golpe dentro do golpe.
Além de destacar que não se falou de golpe, nem de assassinar alguém.
Destacou a lealdade de poucos ao B até o fim e até hoje e que cada um tem que arcar com responsabilidades por atos e omissões.
– Logo depois o B fez um vídeo da praia em que teve que “defender”, mesmo que discretamente os militares presos no dia 19.
– Domingo saiu uma matéria dizendo que a defesa de parlamentares ao B foi fraca, pois alguns estavam insatisfeitos com a postura dele nas eleições municipais.
– Isso forçou outro vídeo ontem junto com o Gilson (em que B até chora) e uma mensagem convocando os parlamentares para recepcioná-lo no aeroporto em que faria uma coletiva de imprensa.
Análise das estratégias de defesa – A Defesa do B (em especial a comunicação dele) está usando agora os áudios que foram divulgados da Operação Contragolpe e o Relatório final para reforçar a tese de que apesar de todo mundo querer fazer alguma coisa, foi o B que não quis.
Tirando o corpo dele fora, mesmo que para isso jogue no colo do Heleno, Braga Netto, Paulo Sérgio, Garnier, Cid, Cãmara, Filipe Martins e até do Padre.
– Ouvindo os indiciados e seus advogados e recebendo inputs de militares da ativa e da reserva que estavam diretamente envolvidos ou não nos episódios de novembro e dezembro de 2022, muitos já capturaram essa estratégia da defesa do B.
– A posição de muitos envolvidos (indiciados) é que buscaram sempre soluções jurídicas e constitucionais (Estado de Defesa e de Sítio, GLO e artigo 142).
Tudo isso para achar uma solução e ajudar o Pres B a se manter no governo (pois SEMPRE foi a INTENÇÃO dele), em função de suspeitas de parcialidade no processo eleitoral e desconfiança nas urnas eletrônicas.
– Após o resultado do 2º turno das eleições, muitos não se conformaram com a derrota e iniciou-se uma busca para “achar” fraudes nas urnas, o que nenhuma auditoria provou.
Apareceram também sugestões, planos, palestras de power point, mensagens de zap e minutas variadas com GLO, 142, Estado de Sítio, etc e que eram entregues às autoridades na rua, no aeroporto, no comitê de campanha.
Um exemplo de que estas soluções estavam abertas na população foi a realização de uma audiência pública no Congresso tratando do artigo 142.
Até o PT, durante a CPMI de 8 de janeiro produziu um documento chamado: Roteiro do Golpe.
– Os integrantes da alta cúpula do governo que estavam próximos ao Pres.
B são incisivos em afirmar que “nunca ouviram falar” do Plano (maluco) Punhal Verde Amarelo e seus desdobramentos.
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Podiam ter a percepção que alguns militares da ativa e da reserva, normalmente de postos e graduações mais baixas, eram mais exaltados e apresentavam no discurso medidas mais fortes e um descontentamento pela inação das autoridades.
– Depois da divulgação, que surpreendeu a todos (do plano, da operação Copa 2022, dos diálogos e áudios), o entendimento geral é que o Gen Mário teve excesso de iniciativa passando a tratar de assuntos diversos com apoiadores, manifestantes, autoridades tentando influenciar e forçar a adoção de soluções poucos ortodoxas, extremadas e ilegais.
Pelas conversas, fica claro que ele não tinha um “comandante superior” e nem precisava disso.
Fica a impressão que planejou e liderou antigos subordinados à revelia de ordens superiores com excesso de iniciativa e querendo impor suas vontades e percepções.
Entretanto, fica notório também que nunca foi desleal ao Comandante Supremo, Presidente B, procurando mantê-lo informado, mesmo que por intermédio do TC Cid.
– Deixar colocarem a culpa nos militares que circundavam o poder no Planalto é uma falta total de gratidão do B àqueles poucos, civis e militares, que não traíram ou abandonaram o Pres.
B após os resultados do 2º turno das eleições.
– Sobre o TC Cid, em particular, ele foi leal ao B e continua sendo.
Teve um papel dificílimo no governo, ser um elo do ímpeto de vários interlocutores com sugestões variadas e a falta de decisão, assertividade e clareza do Pres.
B.
Exemplo do diálogo: “O negócio é que ele tem essa personalidade as vezes, né?
Ele espera, espera, espera…”.
Parte da imprensa (orquestrada) tem reforçado a tese de que alguns militares não aderiram ao “golpe” e que salvaram a democracia.
Em verdade, quem vivenciou de dentro e de perto viu a omissão, a resistência passiva interna e de “traição” ao Comandante instituído, a prevaricação, a falta de coragem moral de dizer não na cara do Comandante Supremo.
Um fator que dependia exclusivamente dos militares, em especial do Exército, era desmobilizar o quanto antes as manifestações na frente dos quartéis.
Lembrar que o General Freire Gomes assinou a nota dos comandantes no dia 11 de novembro estimulando a permanência das manifestações.
Os militares erraram todos em suas condutas, os da ativa e do alto comando e os da reserva que eram do governo por não terem tido a coragem de demover a ideia de realizar alguma solução constitucional pois na verdade o B ficou isolado politicamente, internacionalmente e aqueles que ficaram com ele até o fim, ele aparenta estar soltando a mão agora pela sobrevivência de seu projeto político e de poder.
– A estratégia da defesa do B de negação não tem agradado aos advogados das outras defesas, militares da ativa e da reserva ouvidos e muito menos aos militares envolvidos diretamente no caso.
Um deles comentou: “B disse que não sabia de nada, não deu ordem de nada, não viu, não assinou, não ouviu nada.
Está igual ao Lula nos inquéritos da Lava-Jato”.
Em verdade, ou sabia ou desconfiava, mas não disse nem que sim nem que não.
Pagou para ver se dava certo e com essa ação incerta e vacilante acarretou muito danos colaterais.
– Um dos áudios da investigação (que tem sido omitido pela defesa do B) mostra um Coronel falando com o Gen Mário sobre a conduta do Pres.
B: “Ele que tenha “coragem moral” para falar que não quer mais”.
Esta é uma percepção e um sentimento que tem crescido muito.
B deveria ter mandado as pessoas saírem da frente dos quartéis.
Os comandantes militares também se omitiram pois não tiveram capacidade e coragem de falar claramente isso na cara do B, que era o que ele tinha que ter ouvido naquele momento.”
Fonte: estadao
11/08/2025 14:49