As fotos e cartas inéditas do jovem Ayrton Senna antes de ser piloto de F1 Piloto já demonstrava paixão e obsessão pelo automobilismo em correspondência com amigo jornalista “Pode-se dizer que foi uma das piores corridas de que já participei”, assim escreveu Ayrton Senna a um amigo.
Sim, o tricampeão de Fórmula 1 também teve seus dias ruins nas pistas.
Mas neste caso, era uma prova de kart, anos antes das suas glórias na principal categoria do automobilismo.
Em cartas e fotos inéditas do piloto, vem à tona uma desde jovem obsessão pela velocidade com minúcias da mecânica dos carros e até desenhos feitos à mão por ele.
As cartas desvendam uma versão pouco conhecida de Senna.
As duas correspondências da coleção somam 25 páginas endereçadas ao amigo Antônio, jornalista autoesportivo no Brasil, com quem, antes de partir ao Velho Continente, compartilhou as pistas e a paixão pelo automobilismo.
💥 Impacto e Consequências
Aos 19 anos, ele viajava pela Europa competindo de kart e o conteúdo epistolar detalha — com requintes que apenas um apaixonado e dedicado piloto como Senna pode dar — as suas experiências e observações para auxiliar o colega em uma matéria.
A primeira carta de 14 de maio de 1979 foi escrita em Montreux, na Suíça, onde o piloto aproveitou “alguns dias para dar uma escapada da Itália”.
No papel do próprio Hotel National, Senna relata os recentes testes em Jesolo do sistema de refrigeração a água do kart.
“Os mesmos mostraram-se fantásticos, pois viraram meio segundo mais rápido que o mesmo modelo com refrigeração normal.
Estes motores têm uma enorme vantagem, que é trabalhar numa temperatura média de 70 graus Celsius, enquanto os normais trabalham a mais ou menos 150 graus Celsius.
Por aí você pode deduzir que o rendimento durante uma prova é realmente muito bom, pois, ao contrário do modelo normal, não cai de rendimento sequer um décimo de segundo.
Pelo contrário, tem uma sensível melhora após as primeiras voltas.”
Senna descreve o sistema de refrigeração por mais de três páginas e desenha a próprio punho um esboço do funcionamento.
O empenho de esclarecimento é tanto que ele alterna entre diferentes cores de caneta na ilustração.
“A linha vermelha é a tentativa de mostrar a correia”, afirma o piloto, que também reconhece o dom artístico não ser o seu forte: “Obs.: o desenho praticamente de nada vale para você entender, mas foi uma tentativa”.
“O Senna não queria que os jornalistas interpretassem besteira sobre ele”, explica Mathias Meyer, especialista em documentos raros históricos.
“Então ele escreveu, de forma tão detalhada justamente para o Antônio escrever, descrever da forma mais precisa possível.” Jovem obsessão Por 40 anos, as correspondências e fotografias estiveram com a família de Antônio.
O jornalista morreu em 1982, antes mesmo de ver o amigo ingressar na Fórmula 1 dois anos depois.
A sua irmã, Glaucia, guardou o material nas mudanças de casa e decidiu repassar a coleção inédita.
Meyer foi o escolhido para fazer a ponte e se surpreendeu com o material: “Eu me emocionei.
Um pela quantidade de páginas, o conteúdo muito ligado ao personagem Senna, à corrida, à mecânica.
Mas também pela obsessão dele.
📊 Informação Complementar
Ele escreveu 25 páginas com apenas ‘Oi, Antônio’, ‘Tchau, Antônio”.
Não pergunta notícia para ele, da família, nada.
Ele fala apenas da corrida porque era obcecado.”
“É necessário um trabalho muito delicado na parte traseira do pistão (na parte que trabalha nas saídas dos gases pelo escapamento).
É necessário diminuir bastante o pistão para reduzir o atrito na parte superior traseira dele, pois, sem isso, seria fatal uma bela engripada” As fotos da coleção foram tiradas na Bolívia, ao que indica por Antônio, no Campeonato Pan-Americano de Kart em La Paz.
A juventude daquele lembrado por erguer troféus na F1 é nítida, mas o olhar determinado (e cabelo) são os mesmos.
E é unânime: Senna sempre ao lado de um carro.
Frustração em detalhes
Senna era franco nas palavras com o amigo.
“Da corrida de Jesolo (1, 2 e 3 de junho), pode-se dizer que foi uma das piores corridas de que já participei”, iniciou na segunda carta.
Datada de 11 de junho de 1979, ele relatou os resultados e principalmente os obstáculos que enfrentou nos últimos finais de semana.
O piloto viveu altos e baixos na prova na Itália de um chassi “que estava se mostrando excelente” a um “defeito grave” no carburador que lhe custou posições e rendeu muitas dores de cabeça.
Entre verdadeiras narrações escritas das corridas, Senna colocou os rankings finais dos competidores e os acontecimentos de cada etapa.
No fim de semana seguinte, participou de um circuito em Wohlen, na Suíça, e na terceira bateria, ele dava os primeiros passos em um cenário que tanto o consagraria: “Na primeira bateria final, houve uma confusão total, correria e troca de pneus, pois a chuva estava chegando.
A bateria foi disputada sob uma chuva forte, e consegui apenas a 4ª posição.” Apesar do resultado “desastroso” para Senna, ele já demonstrava domínio e conhecimento sob as condições climáticas adversas: “Isso aconteceu porque meu mecânico insistiu em deixar o chassis rígido, como se fosse para pista seca, e utilizar uma calibragem mais alta, também típica de pista seca.” Espírito vencedor Lembrado como um dos maiores nomes do automobilismo mundial, Senna se mostrou fascinado pelos maiores e menores componentes do carro, então kart, para o tornarem mais rápido.
“Muhammad Ali, Michael Jordan…Todos tinham essa mentalidade desde muito adolescente uma certa agressividade de querer ganhar.
Não só participar.
Querer ganhar”, compara Mathias Meyer.
“A corrida era composta de 15 voltas.
Fui estudando o 1º colocado, Busslinger, e ao mesmo tempo ameaçando ultrapassá-lo em pontos onde jamais faria isso, apenas com o intuito de forçá-lo a andar mais rápido.
Isso era fatal para que ele cometesse um erro.
Foi exatamente o que aconteceu na sexta volta.
Com medo de ser ultrapassado, Busslinger abusou em uma curva de alta velocidade, abrindo muito na saída.
Isso possibilitou a minha ultrapassagem.
[…] Faltando duas voltas para o término, meu motor começou a perder rendimento.
A última volta foi disputada com os seis primeiros pilotos colados, mas, felizmente, consegui manter a 1ª posição e vencer a última bateria final.” Não há registro de uma matéria publicada por Antônio com as informações passadas por Senna, ou de outras fotos que ele prometeu enviar ao amigo em meio às explicações.
“Espero que você consiga tirar uma boa matéria a partir desse relato.
Fiz o meu melhor para detalhar tudo.” Longe de descumprir a promessa, ele fez muito mais.
Fonte: veja
12/12/2025 15:02











