A explosão dos cursos de pensamento crítico Em um mundo lotado de coisas “smart”, saber raciocinar com clareza virou habilidade cobiçada — procura por aulas na América Latina cresceu 194% Existe uma torradeira que, com algoritmos de aquecimento, garante a torrada perfeita.
Uma lixeira capaz de selar e trocar os saquinhos imundos que a gente normalmente acha nojentos.
Privadas capazes de analisar urina e detectar possíveis problemas de saúde.
Num mundo em que vivemos rodeados de coisas smart, I couldn’t help but wonder… A quantas anda a inteligência humana?
📊 Informação Complementar
Roubei a frase padrão de Carrie Bradshaw para começar o texto porque, assim como a personagem de Sex and the City, fiquei encucado com um mesmo tema nos últimos dias — hiperfoco, como é moda dizer hoje.
No caso, com o fato de que houve uma explosão na procura por cursos de pensamento crítico.
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Mais especificamente, 194% na América Latina e 26% no Brasil, ao longo do último ano.
Os dados são da plataforma Coursera, que aqui no país tem 6,5 milhões de alunos.
Houve, de modo geral, uma procura enorme por aprendizado relacionado a tecnologia: 242% nos cursos de capacitação em IA Generativa, por exemplo.
Por que essa procura alta chama atenção?
O que me pegou foi a sensação de que a gente anda tão destreinado, quando o assunto é pensar, que só recorrendo a um curso para pegar no tranco.
Sim, pode ser bobagem minha.
Mas me inquieta pensar que, quanto mais convivemos com máquinas inteligentes, mais temos preguiça de colocar a cabeça em atividade.
Passamos os dias scrollando entre redes sociais mediadas por algoritmos, pulando de uma urgência para outra.
E, não à toa, surgiu o conceito de brainrot, que se refere a um “apodrecimento” da massa cinzenta devido ao excesso de conteúdo ruim.
Por outro lado, QUE BOM que as pessoas decidiram procurar cursos.
Sou sempre a favor de estudo, aprimoramento, evolução pessoal baseada em atividade intelectual, desde a época que era chamado de CDF e similares no colégio.
É possível, ainda, que a procura seja motivada não porque a gente anda destreinado de pensar, mas porque a convivência com tecnologias que parecem tão melhores nisso (embora nem sempre sejam) fez algum gigante adormecido acordar.
Os catalisadores que criaram a tempestade perfeita Com ajuda do meu estagiário preferido no momento, que é o Gemini — mês passado era a Perplexity, que anda meio de mal comigo — tentei entender de onde surgiu essa corrida pelo pensamento crítico.
De novo: é melhor um mundo com gente que estuda, que o contrário, ok?
A IA me apontou que essa valorização súbita do pensamento crítico não nasceu de um único guru corporativo ou de uma campanha de marketing.
Foi uma tempestade perfeita, com três grandes catalisadores.
O primeiro gatilho foi institucional e veio de relatórios como o The Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial.
Começou na edição de 2016, quando o documentou listou ”pensamento analítico e crítico” no topo das competências essenciais para o futuro do trabalho.
Quando um dos principais fóruns de líderes globais sinaliza que essa é a habilidade que definirá os profissionais mais valorizados, o mercado escuta e reage.
A velha história do “manda quem pode, obedece quem tem juízo.”
O segundo catalisador foi intelectual, direto das livrarias.
Você, como eu, talvez tenha investido alguns reais em títulos como Rápido e Devagar, de Daniel Kahneman e outros representantes de uma categoria focada em desvendar o cérebro.
Que, sim, já estavam por aí havia mais tempo, porém ganharam força extra na última década.
De certo modo, a procura por inteligências artificiais estimulou também um mergulho interior da humanidade.
Até porque, quanto mais entendemos nosso cérebro, mais elementos temos para tentar reproduzi-lo em laboratório.
Por fim, o terceiro gatilho foi a própria realidade, que se impôs de forma inegável.
A pandemia de Covid-19 nos transformou em analistas amadores de dados, forçados a navegar por um mar de informações conflitantes.
Ao mesmo tempo, a epidemia de desinformação e escândalos como o da Cambridge Analytica expuseram a fragilidade de nossa percepção diante da manipulação digital.
Sim, mas o que há de conteúdo nesses cursos?
Longe de ser uma aula de filosofia, o que já seria bem legal, o conteúdo desses cursos é uma espécie “kit de ferramentas” para a mente.
O objetivo é tornar o processo de raciocínio, que é muitas vezes automático, em algo intencional e estruturado.
Essa descrição me leva a crer que, sim, realmente precisamos de rodinhas de bicicleta para voltar a raciocinar de verdade.
Talvez o cansaço de que a gente tanto reclama (com razão) só possa ser vencido com estímulos educacionais.
Será?
Daí, segundo as ementas dos cursos que analisamos, os alunos aprendem a anatomia de um argumento: premissas, evidências, o que tem de sólido numa discussão e o que é castelo de cartas — bem legal, quero essa aula.
Os cursos também abordam as falácias lógicas e os vieses cognitivos, como o viés de confirmação, que nos faz dar atenção apenas ao que reforça nossas crenças preexistentes, a base das bolhas ideológicas.
Talvez o pilar mais prático seja a avaliação de fontes.
Ensina-se um método para analisar a credibilidade da informação, questionando sua autoria, propósito, precisão e relevância.
É uma habilidade de sobrevivência digital.
Olha, confesso que depois que vi direitinho o conteúdo, fiquei com vontade de me matricular também.
E, não, isso não é uma publi disfarçada e não ganharei nada pelo comentário da frase anterior, beleza?
Fonte: veja
07/07/2025 20:44