Nova Déli endurece medidas contra Islamabad após massacre atribuído à Frente de Resistência; escalada militar preocupa analistas
A tensão entre Índia e Paquistão voltou a escalar rapidamente após um ataque a tiros na região de Pahalgam, na disputada Caxemira, deixar 26 turistas mortos, a maioria cidadãos indianos. O grupo militante Frente de Resistência (TRF), apontado por Nova Déli como vinculado ao Lashkar-e-Taiba, assumiu a autoria.
Diante da repercussão internacional e da comoção nacional, o governo indiano ordenou que todos os cidadãos paquistaneses deixem o país até o dia 29 de abril, em mais uma medida de retaliação ao que chama de “apoio de Islamabad ao terrorismo transfronteiriço”.
A nova diretriz soma-se ao fechamento de uma importante passagem de fronteira, à suspensão do tratado de compartilhamento das águas do Rio Indo e ao cancelamento de vistos e presença diplomática de paquistaneses no território indiano. Em resposta, o Paquistão suspendeu o comércio bilateral, fechou o espaço aéreo e também expulsou diplomatas indianos.
O ataque em Pahalgam e o papel da TRF
O massacre aconteceu na terça-feira (23) em Pahalgam, uma área turística da Caxemira administrada pela Índia. Homens armados abriram fogo contra turistas que se deslocavam a cavalo por um vale isolado. Testemunhas relataram que os atiradores acusavam as vítimas de apoiarem o primeiro-ministro Narendra Modi antes de atirar.
A Frente de Resistência (TRF), grupo militante pouco conhecido, reivindicou o ataque. A Índia classifica a organização como terrorista e a vincula ao Lashkar-e-Taiba, responsável pelos ataques de 2008 em Mumbai. A TRF surgiu em 2019 e atua com forte presença online, mas sem uma liderança jihadista formal.
Resposta e riscos de escalada
Em discurso público, o primeiro-ministro Modi prometeu perseguir os responsáveis “até os confins da Terra” e afirmou que o terrorismo “não ficará impune”. Analistas avaliam que há forte pressão interna sobre o governo indiano para uma retaliação militar direta, semelhante à ofensiva de Balakot em 2019, quando a Índia lançou ataques aéreos contra o Paquistão após um atentado suicida na Caxemira.
A suspensão unilateral do Tratado das Águas do Indo foi particularmente criticada por Islamabad, que a classificou como “ato de guerra”. O acordo, em vigor desde 1960, regula o uso compartilhado de um dos sistemas fluviais mais importantes da Ásia. A decisão agrava o risco de deterioração nas relações diplomáticas e ameaça a segurança alimentar de milhões no Paquistão.
Clima de insegurança
Além do impacto político, o ataque abalou o setor turístico local. Empresários relatam cancelamentos em massa e colapso nas reservas. Moradores de Srinagar realizaram protestos em solidariedade às vítimas, enquanto manifestações anti-Paquistão tomaram cidades indianas, alimentando o temor de aumento da islamofobia.
Sem sinais de moderação de nenhuma das partes, especialistas alertam para o risco real de escalada militar entre duas potências nucleares. “As chances de uma escalada descontrolada nos próximos dias não são insignificantes”, advertiu Fahd Humayun, professor da Universidade Tufts, à CNN.