A escolha do governo da Bahia em não reajustar a tarifa do metrô não é meramente uma decisão política. É parte de uma estratégia eleitoral para tentar diminuir a ascendência que o grupo político da oposição mantém em Salvador desde 2013. Por isso é relevante entender que, no xadrez político, não existem meninos, apenas figuras que sobrepõe e subjugam interesses de acordo com as próprias conveniências.
No começo deste ano, quando o prefeito Bruno Reis anunciou o reajuste dos ônibus na capital baiana, não apenas o governador Jerônimo Rodrigues como também seu entorno sinalizaram que o metrô precisaria ser reajustado. Voltaram atrás, porém se esforçaram em negar que tenha havido essa intenção. O desequilíbrio tarifário da integração entre os sistemas é algo que se arrasta há tempos e estado e prefeitura não conseguem sequer conversar. Então, a conta já não fechava antes e agora tende a piorar. E quem vai pagar pela briga é o cidadão baiano, que não tem a menor noção do quanto o bolso pesa com tais decisões.
Para manter a tarifa congelada (possivelmente até 2027, após a campanha de reeleição de Jerônimo), o governo baiano aumentou o subsídio ao metrô. É claro que um sistema como esse não funciona sem subsídio, mas o cálculo para um limite a isso não deveria ser eleitoral. Apesar do usuário do serviço não pagar a mais pela tarifa, o restante da população lida com os cofres estaduais dispendendo mais por algo que não impacta na vida de milhões de baianos que não vivem na Região Metropolitana de Salvador. Ou seja, o pagamento é indireto e, portanto, suavizado pelo discurso de preocupação com a população menos favorecida e que depende de transporte público.
O cálculo político, inclusive, evita uma discussão mais ampla sobre um tema que afeta especialmente as grandes cidades e a ausência de subsídio estadual para o transporte rodoviário urbano, com redução do ICMS para atividades correlatas ao serviço. Salvador é apenas uma das cidades afetadas, mas basta olhar para munícipios como Itabuna e Alagoinhas, que são administradas por aliados do governo da Bahia, para perceber que evitar essa discussão por conta da oposição em Salvador prejudica sistemas já falidos e que não tem perspectiva de melhoria. Se o governo federal opta por não subsidiar o transporte público como um todo, e o estado opta por subsidiar apenas o transporte sobre trilhos, a conta sobra para prefeituras que ficam com o menor bolo tributário do país.
A oposição não vai explorar tanto a questão eleitoral. Bruno Reis usou estratégia similar quando fez reajuste tarifário dos ônibus apenas em 2025, após ser reeleito com margem de sobra nas urnas. É um jogo em que todos são profissionais e que os amadores são a população, que quase sempre não tem oportunidade de entender as nuances das decisões dos gestores. Jerônimo não está errado ao congelar as tarifas. Só que se engana quem desacredita que tudo não passa de um teatro cujo ingressos os cidadãos pagam sem nem saber.