Lula diz que vai desistir de acordo UE-Mercosul se europeus não assinarem tratado em Foz do Iguaçu
Presidente disse que Itália e França não querem dizer 'sim' por problemas internos.
Crédito: GovBR PARIS – O acordo entre a União Europeia e o Mercosul, destinado a facilitar o comércio entre os dois blocos, surge como um tema controverso na cúpula de chefes de Estado e de governo europeus iniciado nesta quinta-feira, 18, em Bruxelas, onde fica a seda da UE.
A Comissão Europeia (braço executivo do bloco europeu) espera assinar o tratado neste sábado no Brasil, mas a França e a Itália não estão tão convencidas disso.
Além disso, milhares de agricultores participam de uma manifestação na capital belga para mostrar sua rejeição ao acordo.
Entenda o que está em jogo:
O que é o acordo UE-Mercosul?
Trata-se de um acordo comercial entre a União Europeia e os quatro países sul-americanos que forma o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
🧠 Análise da Situação
Anunciado no final de 2024, após um quarto de século de negociações, o tratado prevê a supressão da maioria das tarifas entre essas duas zonas.
Ele também promete receitas importantes para as empresas de ambos os continentes: o mercado sul-americano representa 270 milhões de consumidores e o da UE, 450 milhões.
O tratado deve favorecer as exportações europeias de automóveis, máquinas, bebidas alcoólicas, chocolate, azeite e queijos.
Também permitiria a entrada na Europa de carne, açúcar, arroz, mel ou soja sul-americanos.
📊 Informação Complementar
O desafio da transição energética e tecnológica também leva a Europa a se aproximar dessa região do mundo rica em lítio, cobre, ferro e cobalto.
Qual é o calendário previsto?
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, espera assinar o tratado no sábado, 20, em Foz do Iguaçu, no Brasil, durante uma cúpula de chefes de Estado do Mercosul.
No entanto, ele precisa da aprovação dos chefes de Estado e de governo europeus, e por isso o assunto deve ser debatido na cúpula de Bruxelas, iniciada nesta quinta-feira e que se encerra amanhã.
De qualquer forma, após a assinatura, o Parlamento Europeu terá de ratificá-lo, e a votação poderá ser acirrada.
Cerca de 150 eurodeputados já solicitaram ao Parlamento que denuncie o tratado ao Tribunal de Justiça da UE.
Quem apoia e quem é contrário ao acordo?
A maior parte dos países do bloco é favorável à assinatura.
A Espanha, por exemplo, alega que ele promoveria as exportações de vinho e azeite.
O ministro da Agricultura, Luis Planas, reiterou na terça-feira esperar que este tratado “fundamental” seja assinado “nos próximos dias”.
O chefe do governo alemão, Friedrich Merz, que espera dar saída no bloco sul-americano aos veículos de seus fabricantes, que atravessam um momento delicado, prometeu pressionar seus parceiros para que ratifiquem o acordo.
Líderes de países como Portugal e Holanda também já se manifestaram a favor da assinatura.
Por outro lado, a França e a Itália querem que a assinatura seja adiada.
O presidente francês, Emmanuel Macron, considera que os agricultores franceses não estão suficientemente protegidos e advertiu na quarta-feira que Paris “se oporia de forma muito firme” se a adoção do tratado fosse forçada.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, considerou, por sua vez, que ainda é “prematuro” assiná-lo.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu na terça-feira a Macron e Meloni que assumissem “suas responsabilidades”.
E na quarta-feira, advertiu: “Se eles disserem não, vamos ser duros com eles daqui para frente, porque cedemos em tudo o que era possível ceder diplomaticamente”.
O que é necessário para a UE aprovar o acordo?
Para concluir e assinar o tratado, von der Leyen e os líderes europeus precisam de amplo apoio dos países-membros do bloco.
Barrar o projeto requer que, no mínimo, quatro países representantes de pelo menos 35% da população europeia votem contra o texto final.
Polônia, França, Irlanda e Áustria se mostram contra o acordo desde o ano passado, mas não cumprem sozinhos os requisitos mínimos para rejeitá-lo.
Mas a Itália, nesta semana, também se mostrou contra a assinatura.
Caso somada, a contrariedade da Itália pode ser o suficiente para adiar o projeto, já que a França detém 15,2%; Polônia, 8,1% e Itália, 13,1% – um total de 36,4% da população.
Leia também
Por que os agricultores e pecuaristas protestam?
Os sindicatos de agricultores dizem que o setor agrícola sul-americano poderia se beneficiar do acordo.
De acordo com o instituto europeu de estatística Eurostat, em 2024, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai exportaram produtos agrícolas e agroalimentares para a UE no valor de US$ 23,3 bilhões.
No que diz respeito à pecuária, o tratado prevê cotas de exportação para a UE de 99 mil toneladas no máximo para a carne bovina, ou seja, 1,6% da produção da UE.
A partir daí, serão aplicadas tarifas superiores a 40% (em vez de 7,5%), de acordo com a Comissão Europeia.
Os criadores de gado franceses temem não ser competitivos, uma vez que nos países do Mercosul vigoram normas ambientais e de segurança alimentar, segundo eles, menos restritivas.
A UE espera tranquilizá-los com medidas de proteção: na terça-feira, o Parlamento Europeu aprovou a criação de um mecanismo para supervisionar o impacto do acordo em produtos sensíveis, como carne bovina, aves e açúcar; e uma possível reinstituição de tarifas se o mercado se desestabilizar.
No entanto, os eurodeputados e os Estados-membros ainda têm de chegar a acordo sobre as condições específicas em que essas medidas seriam aplicadas.
/ Colaboraram Laís Adriana, Célia Froufe, Pedro Lima e Antonio Perez
Fonte: estadao
18/12/2025 12:33










