COP-30 em 30′: Cúpula do Clima começa com ‘lição de casa’ acumulada de edições anteriores ‘COP-30 em 30’ é apresentado por Aijinomoto, BNDES, Governo Federal do Brasil, Governo do Pará, Hydro e JBS e patrocinado por Aegea, Agropalma, Ypê e Zurich.
Crédito: Carla Menezes | Julia Pereira | TV Estadão ENVIADO ESPECIAL A BELÉM – Chefes de Estado e de governo globais passaram por Belém com histórias inusitadas, reclamações e pressão para que tudo ficasse pronto, encontros — e desencontros — nos restaurantes mais famosos da cidade e compartilhamento de hotéis de luxo.
O Estadão flagrou alguns desses momentos, da preparação e conta agora histórias de bastidores da cúpula de líderes da COP-30: Hospedagem compartilhada A conhecida crise de hospedagem que fez o governo Lula criar e antecipar a cúpula, levou o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, a telefonar para o empresário Jorge Rebelo de Almeida, da rede Vila Galé.
Ele pediu que o empresário desse um jeito de acelerar as obras e entregasse o hotel na zona portuária a tempo.
Do contrário, os portugueses não teriam onde se hospedar.
Deu certo – apesar de nem tudo estar pronto ainda no hotel da rede.
Ao fim, a delegação portuguesa, liderada incialmente pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, dividiu o hotel com a delegação da União Europeia – formada pelo também português António Costa (presidente do Conselho Europeu) e pela alemã Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia).
Outro ponto dividido foi o novo Tivoli Maiorana, onde ficou a delegação britânica – príncipe William e premiê Keir Starmer, e artistas como a cantora Fafá de Belém.
🧠 Análise da Situação
A divisão de hotéis de luxo não é incomum, mas algumas delegações, como a Chinesa e a dos Estados Unidos, não costumam aceitar.
Nem pensar em dividir o quarto – o que sobrou para negociadores, funcionários dos governos, ambientalistas e jornalistas.
O red carpet do ditador
Mas foi outro hóspede quem roubou a cena no Vila Galé Collection Amazônia.
Lá também ficou alojada a comitiva presidencial da República do Congo.
O governo de Brazzaville estendeu um tapete vermelho no hall de entrada e nos corredores de acesso à suíte ocupada pelo ditador Denis Sassou N’Guesso, ex-oficial militar que comanda o país africano desde 1997.
O tapete foi estendido no chão para que o congolês entrasse e saísse do quarto, cujo ambiente também foi modificado para atender suas exigências.
Veja a foto abaixo obtida pela reportagem:
Mesmo na divulgação oficial do país é possível ver o red carpet, na entrada da suíte.
Nem todos tiveram a exigência, mas no exterior o tapete também é colocado, por exemplo, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Foi assim na Malásia, na recepção do hotel Renaissance de Kuala Lumpur.
Leia também Queixa do Talibã ausente e novo líder sírio presente A cúpula também permitiu a primeira breve interação entre o presidente Lula e Ahmad Al-Sharaa, novo líder do governo da Síria, que assumiu após a queda do regime de Bashar Al-Assad, derrubado por seu grupo, o Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
O petista o cumprimentou na recepção aos líderes.
O governo talibã, por sua vez, reclamou de o Afeganistão não ter sido formalmente convidado para participar da conferência.
A exclusão motivou nota pública de protesto, publicada pela Agência Nacional de Proteção Ambiental afegão, a Nepa.
Em nome do governo, o órgão disse que o Afeganistão é um dos países mais vulneráveis a mudanças climáticas.
O Talibã reclama de falta de reconhecimento internacional, sobretudo no Ocidente, algo que o sírio tem conseguido, depois de um passado jihadista ligado à Al Qaeda.
Ele vai se encontrar com Donald Trump e saiu da lista de terroristas dos EUA.
Ilha, jardim botânico ou museu: tudo pela imagem Como a imagem diz muito na política, os chefes de Estado e de governo aproveitaram a passagem para garantir registros que mostrassem o ambiente de uma floresta tropical – embora a maioria não tenha sequer saído da área urbana de Belém.
Quem teve mais tempo, optou por uma experiência imersiva na Ilha do Combu, que requer uma travessia curta de lancha e permite, em algumas horas, de banho de rio à prova de chocolates orgânicos, como fez o presidente do Conselho Europeu, o português António Costa.
Já a colega dele Ursula von der Leyen aproveitou para circular no Bosque Rodrigues Alves, onde conheceu exemplares da fauna e da flora local, segurou um papagaio, observou quelônios e pegou no colo e afagou um quati.
O príncipe de Gales, William, herdeiro do trono britânico, circulou pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, onde pode ouvir aves da coleção e ver as cotias soltas, um passeio interrompido pela chuva amazônica.
Rivais em restaurante premiado
Um dia depois de a reunião de líderes acabar, as delegações e autoridades foram aproveitar uma vez mais a premiada culinária paraense.
Alguns dos restaurantes mais concorridos foram o Santa Chicória, a Casa do Saulo das Onze Janelas, o Celeste e o descontraído Puba.
📊 Informação Complementar
Antes de decolar para Porto Alegre, a ex-presidente Dilma Rousseff apareceu no sábado, dia 8, para um almoço com seus assessores diretos na Casa do Saulo.
O chef Saulo Jennings foi até a mesa cumprimentá-la.
Dilma vive hoje em Xangai, na China, e preside o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), instituição financeira do Brics, tendo muita proximidade com o governo comunista de Xi Jinping.
A ex-presidente entrou de óculos escuros e blazer vermelho no salão principal climatizado e passou sem perceber ao lado da mesa ocupada por ativistas de ONGs e o embaixador Benito Liao, representante no Brasil do governo de Taiwan – ilha que desafia Xi e busca manter sua autonomia de Pequim.
Lá ocorreria outro “desencontro”.
No mesmo restaurante, na mesma hora, almoçou em mesa separada por uma parede a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), com a equipe do ministério.
Marina optou por uma mesa ao ar livre, do lado de fora e voltada para a Baía do Guajará.
Marina e Dilma protagonizaram divergências quando foram ministras do governo Lula, por causa dos impactos da construção e licenciamento de usinas hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte.
Marina acabou saindo do governo, e Dilma foi promovida a substituta de Lula e se elegeu presidente.
Na disputa da reeleição, Marina concorreu a presidente depois da morte de Eduardo Campos (PSB), numa queda de avião, e virou alvo de uma campanha de desinformação liderada pelo marqueteiro petista, contratado por Dilma, João Santana.
A ministra sempre se queixou dos ataques.
Assim como Macron e William, Guterres dispensa peixe e maniçoba
Horas após o fim da cúpula, o secretário-geral da ONU, António Guterres, reuniu a equipe das Nações Unidas numa mesa do Santa Chicória.
Ele mesmo pagou a conta daquela noite de lua cheia, sexta-feira, dia 7.
Guterres e equipe conversaram sobre a COP-30.
O rosto da ONU, que vai deixar o cargo em 2027, evitou os pratos com peixe – elemento central da culinária local que já causou celeuma nos preparativos para recepções a chefes de Estado.
O presidente francês Emmanuel Macron também avisou, desde sua visita em 2024 a Belém, que também não comeria peixes de rio.
Antes da COP-30, o chef Saulo Jennings se recusou a preparar um menu vegano, totalmente sem peixe, principal fonte de proteína da cozinha paraense, como exigia a família real britânica para a visita do príncipe William.
Para ele, não faria sentido assinar um cardápio assim.
Autoridades não começaram o prato típico e popular, apesar de uma recomendação de Lula, durante o almoço do Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (mecanismo proposto pelo Brasil), para que fossem aproveitar a gastronomia regional.
O petista também sugeriu que provassem “maniçoba”, prato à base da maniva e carnes de porco, que alguns comparam como uma espécie de feijoada paraense.
A reportagem do Estadão conversou com ele e perguntou se Guterres continuava pessimista ou se os resultados da reunião de líderes o fizeram mudar previsão sobre o futuro do planeta.
O português não quis comentar, mas disse que aprovou seu prato.
E, sobretudo, a sobremesa.
Guterres comeu uma costela de “Brangus” assada por 24 horas, servida com arroz moreno de cebola e tomate cocasse, cebola na brasa e farofa de Bragança.
De sobremesa o secretário-geral da ONU preferiu algo à base de chocolate.
Ele comeu um bolo “flerte”, assim descrito no cardápio: “irresistível bolo de chocolate cremoso com calda de chocolate, bola de sorvete de chocolate belga e calda quente.
Ideal para quem quer garantir a conquista com um único pedido”.
Fonte: estadao
10/11/2025 14:06











