Vídeo: Mounjaro de R$ 4 mil é vendido em isopor em feira de Brasília A coluna percorreu o local com câmeras escondidas e encontrou um mercado clandestino estruturado atualizado Compartilhar notícia Em meio aos corredores barulhentos da Feira dos Importados, no coração do comércio popular de Brasília, um novo produto circula com a mesma naturalidade que celulares e fones de ouvido.
O Mounjaro, medicamento indicado para o tratamento do diabetes tipo 2 e que se tornou objeto de desejo por seu efeito emagrecedor, é vendido ilegalmente em bancas de eletrônicos, longe de qualquer controle sanitário.
A coluna percorreu o local com câmeras escondidas e encontrou um mercado clandestino estruturado, onde o remédio, que exige prescrição médica e monitoramento, é oferecido abertamente por comerciantes sem qualquer vínculo com a área da saúde.
Não há anúncios, cartazes nem vitrines.
A venda acontece no boca a boca, sustentada por indicações e pela confiança no improviso.
Ao perguntar por “Mounjaro”, a reportagem foi prontamente atendida.
📌 Pontos Principais
“Quem traz é o meu cunhado.
Ele que importa”, contou uma das vendedoras, com naturalidade.
“É o mesmo fornecedor dos iPhones”, completou.
A mulher explicou que o produto chega em embalagens de isopor, acompanhado de gelo, e que deve ser guardado na geladeira.
“A gente mesmo usa.
Se não fosse de confiança, a gente não vendia”, garantiu.
Nenhuma pergunta foi feita sobre histórico médico, idade, diagnóstico de diabetes ou acompanhamento profissional.
A transação é direta: o preço varia entre R$ 3.500 e R$ 4.000 por caneta de 15 mg, e o pagamento é feito por Pix.
“Se levar mais de uma, eu faço mais barato.
Mando o kit completo, com as agulhas de brinde”, disse a vendedora.
Aplicação ensinada na banca
Além de comercializar o remédio, os vendedores explicam como aplicá-lo.
“Dói nada.
É só girar o clique para dar a dosagem e aplicar na barriga, no braço ou na perna”, orienta a vendedora.
A demonstração é feita com gestos e ajuda de vídeos de redes sociais, como se explicasse o funcionamento de um cosmético.
Nenhum alerta sobre efeitos colaterais, riscos de hipoglicemia ou necessidade de supervisão médica é mencionado.
Em algumas bancas, o produto é tratado como um artigo premium.
“Tem que manter dentro da geladeira, tá?”, reforça um comerciante, que também vende celulares e relógios.
Ele afirma que o Mounjaro vem “de fora” e é o mesmo usado por clientes e familiares.
Durante a apuração, a reportagem ouviu relatos semelhantes entre diferentes bancas.
A maioria dos vendedores repete a mesma história: o produto seria “importado” por conhecidos e de “total confiança”.
O argumento é usado como selo de garantia para um negócio que, na prática, ocorre sem qualquer fiscalização.
Dessa forma, os comerciantes conversam sobre o Mounjaro em meio a negociações de eletrônicos, sem demonstrar preocupação.
O produto é oferecido em meio a capinhas de celular, cabos e fones, como mais uma mercadoria de alto valor agregado.
Regulamentação ignorada
O Mounjaro (tirzepatida), produzido pela farmacêutica Eli Lilly, foi aprovado pela Anvisa em setembro de 2023, inicialmente para o tratamento de diabetes tipo 2.
Em junho de 2025, a agência ampliou a indicação para o controle de peso em adultos com obesidade ou sobrepeso, mas impôs regras rígidas de prescrição.
Desde 23 de junho de 2025, a venda do medicamento só pode ocorrer com retenção da receita médica em farmácias devidamente autorizadas, conforme a Instrução Normativa nº 360/2025.
A medida busca evitar o uso indevido e os riscos da automedicação, exigência que, na Feira dos Importados, é completamente ignorada.
Risco à saúde pública
Especialistas alertam que o uso de medicamentos adquiridos fora de farmácias autorizadas pode gerar consequências graves.
O nutrólogo Sandro Ferraz, CEO do Instituto Evollution, explica que produtos sem procedência apresentam alto risco de falsificação ou armazenamento inadequado.
📊 Informação Complementar
“Em locais sem fiscalização, há risco real de substâncias adulteradas, concentração incorreta ou até ausência do princípio ativo.
Isso pode causar infecções graves, reações alérgicas, intoxicações e até morte”, afirma o médico.
O uso do Mounjaro sem acompanhamento pode ainda provocar hipoglicemia grave, pancreatite, desidratação e perda de massa muscular.
O medicamento, que exige refrigeração constante entre 2ºC e 8ºC, perde estabilidade se exposto ao calor, condição comum em feiras populares, onde os produtos são manuseados sob temperatura ambiente.
Posicionamento da fabricante
A farmacêutica Eli Lilly reforçou para a coluna que não vende o Mounjaro fora de farmácias e canais oficiais.
“A Lilly nunca comercializa Mounjaro (tirzepatida) em redes sociais, feiras ou sites.
Esses produtos são potencialmente falsificados ou revendidos de maneira irregular, podendo colocar a vida dos consumidores em risco”, disse a empresa.
A fabricante lembra ainda que o medicamento não é fornecido a farmácias de manipulação, clínicas ou distribuidores independentes.
Toda venda depende de prescrição médica e controle rígido.
A coluna entrou em contato com as bancas da Feira dos Importados, mas não recebeu retorno.
O espaço segue aberto para manifestações .
Fonte: metropoles
12/10/2025 15:10











