Membro da equipa vencedora do prémio Pulitzer 2017, responsável pelo Panama Papers, Rivlin esteve em Lisboa a convite da RedBridge Lisbon, no âmbito dos seus encontros mensais.
A ideia de escrever o 'AI Valley' foi uma "pura sorte" aconteceu no momento certo, de acordo com o autor de mais de uma dezena de livros, escritor de revistas, editor e 'ghost writer'.
Tudo começou quando recebeu um ‘mail’ no final de 2022 do cofundador do LinkedIn Reid Hoffman, uma figura proeminente em Silicon Valley que conhece há 20 anos, a dizer: “Ei, fundei a minha primeira ‘startup’ de IA, a minha primeira ‘startup’ desde o LinkedIn, é uma empresa de IA”, relata Gary Rivlin, na entrevista.
Este foi o ponto de partida para um livro que fala sobre IA e as tecnológicas envolvidas no desenvolvimento da tecnologia, que coincidiu num “bom ‘timing'” porque a ideia surgiu na mesma altura em que mundo estava a “enlouquecer’ com o ChatGTP, da OpenAI.
🌍 Contexto e Relevância
Ou seja, "mesmo na altura em que toda a gente ia começar a falar de IA generativa por causa do ChatGPT, portanto, no final de 2022 e início de 2023 comecei a escrever o livro", conta.
E qual foi a maior surpresa enquanto escrevia o livro?
"Acompanhei os anos das 'dot-com' [Intenet] em Silicon Valley (…) e estava preparado para ouvir que isso estava sobrestimado, que o produto em si ainda não estava pronto, que talvez daqui a uns anos fosse incrível", admite.
Contudo, desde o momento "que comecei a usá-los, pensei que estes 'chatbots' eram como feitiçaria, eram como magia", conta a sorrir.
📊 Fatos e Dados
"São muito, muito, muito bons", mas ainda são limitados, considera, apontando que tem havido uma aposta muito forte na tecnologia, mas que a IA não deve comandar uma empresa ou a vida de alguém.
“Estava pronto para cético” relativamente à IA como uma “ferramenta poderosa”, mas “rapidamente tornei-me um crente que a IA é apenas uma grande tecnologia transformadora” e que “este é o início de algum tipo de revolução industrial”, prossegue.
Gary Rivlin considera que "há muitas semelhanças" com a introdução da Internet e dos telemóveis, quando de repente todos começaram a pensar nisso, como usar.
“Por todos, refiro-me a fundadores e investidores na vida pessoal, nas escolas, nos negócios, mas o que aprendi ao escrever sobre a Internet é que sobrestimamos o impacto a curto prazo de algo, mas subestimamos o impacto a longo prazo”, diz.
É o que está acontecer agora, com esta “tecnologia incrível que terá um impacto profundo na sociedade, nos negócios, em organizações de todos os tipos, na educação, nas nossas vidas pessoais, mas levará muito mais tempo do que as pessoas pensam, não será no próximo mês ou no próximo ano que tudo mudará”.
O especialista aponta para um horizonte de 10 a 15 anos, em que o mundo "vai parecer diferente por causa da IA" da mesma forma que o mundo mudou por causa da Internet ou do telemóvel.
Mas também "há muitos riscos", nomeadamente a ideia de que esta "tecnologia poderosa está nas mãos de apenas algumas 'big tech' e de poucas pessoas", admite.
Em primeiro lugar, "há um risco geográfico", diz, porque basicamente são a China e os Estados Unidos que estão a fazer os avanços, mas há um mundo "muito mais vasto" que estes dois países.
"Penso que a IA, especialmente, está a ameaçar o nosso estatuto máximo como seres mais fortes e inteligentes da Terra.
Estamos a investir nela, eles serão os nossos agentes pessoais.
Eles saberão tudo sobre nós", acrescenta.
O especialista destaca a existência de um fator confiança de que "apenas algumas pessoas, geralmente os que estão em Silicon Valley, tomarão todas estas grandes decisões".
Trata-se de “uma péssima ideia”, defende, considerando que tem de ser feito por “um grupo mais alargado a tomar decisões sobre para onde vai esta tecnologia, que limites lhe impor, que proteções impor, do que apenas um pequeno grupo de pessoas em Silicon Valley ou na China”, refere.
Rivlin diz que gostaria de ver historiadores, sociólogos e um leque mais vasto de pessoas ligados à IA, geograficamente, racialmente e etnicamente.
"Não é isso que está a acontecer, isto preocupa-me, pois são basicamente as mesmas grandes empresas tecnológicas que têm gerido as coisas nas últimas duas décadas", diz.
📊 Informação Complementar
Aliás, "na verdade, comecei este livro a pensar: Quero prestar atenção às 'startups', quem será a próximo Google?
Quem será o próximo Facebook?", conta.
Agora, a minha preocupação é que tudo isto é caro, "só para contratar talento ou gerir e operar, treinar estes modelos", que a "próxima a Google seja a Google" e assim sucessivamente, conclui.
A RedBridge Lisbon é um clube transfronteiriço que liga as comunidades empreendedoras e de investidores de Silicon Valley e Lisboa.
Organiza eventos regulares e encontros de membros em Lisboa e São Francisco, promovendo a interação entre o ecossistema local e a comunidade internacional, fomentado novas parcerias e projetos e tem como cofundadora Filipa Pinto Carvalho.
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Fonte: noticiasaominuto
27/09/2025 09:02