Você sabe o que são Terras raras e por que tem tanta gente graúda atrás delas?
Controle sobre a cadeia de suprimentos de minerais críticos e terras raras tornou-se uma questão estratégica para os EUA.
A corrida por minérios de terras raras acelerou no País nos últimos três anos e ganhou agora ainda maior evidência com o interesse externado pelo presidente americano Donald Trump, que trava uma disputa com a China pelo domínio dos chamados minerais e metais críticos.
Esses materiais são cruciais na fabricação de produtos de alta tecnologia, como smartphones, carros elétricos, equipamentos militares, painéis solares e turbinas eólicas.
Dono da segunda maior reserva mundial de minério de terras raras, atrás apenas da China, o Brasil vem atraindo grupos e mineradoras de diversos países, como Canadá, Austrália e Estados Unidos.
Todos buscam, em vários Estados brasileiros, áreas de argilas iônicas, que contêm a maioria dos 17 elementos de terras raras (ETR).
Esse tipo de minério, em abundância no País, revolucionou a extração de ETR.
Recentemente, a exploração desses minerais ganhou ainda mais evidência após uma reunião do encarregado de negócios e embaixador interino dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Nesse encontro, Escobar deixou claro o interesse do governo americano nesse setor no Brasil.
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O número de concessões para pesquisa emitidas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) alcançou quase 2 mil autorizações de 2023 para cá.
Cerca de 20% disso foi para exploração em Minas Gerais, a maior parte na região de Poços de Caldas.
Além de Minas, se destaca Goiás, onde já está em operação a primeira mineradora de metais de terras raras do País.
Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Ceará e Amazonas também entraram na corrida.
📊 Informação Complementar
Esse é um mercado em plena expansão.
E a China tem amplo domínio desse negócio, alcançado a partir da década de 1990: o país responde por 57% da produção global de minerais de terras raras e por 85% do refino dos óxidos metálicos, como neodímio e praseodímio.
Levantamento da revista especializada Brasil Mineral mostra investimentos em cerca de 20 projetos — desde o da Serra Verde Pesquisa e Mineração, em Minaçu (GO), concluído em 2024, até os que ainda estão iniciando etapas de pesquisa e prospecção das reservas para avaliar a viabilidade de montar instalações de extração e produção.
O investimento na Serra Verde contou com US$ 150 milhões de investimento de um fundo americano.
Na lista aparecem Meteoric Resources, Viridis Mining, Aclara Resources, Brazilian Rare Earths, Appia Rare Earths & Uranium, Brazilian Critical Minerals, Equinox, Saint George Mining, entre outras companhias.
Listada na bolsa australiana, a Meteoric é a que está mais avançada, de acordo com informações do levantamento e de especialistas.
A empresa detém concessão de 69 áreas nos municípios de Poços de Caldas, Caldas e Andradas, em Minas Gerais.
Elas formam o projeto Caldeira (que fica numa estrutura geológica de um antigo vulcão).
O investimento está orçado em US$ 440 milhões (R$ 2,4 bilhões) para produzir 13,6 mil toneladas de concentrado de óxidos de terras raras por ano em unidade instalada em Caldas.
Procura mundial
Governos da Austrália, EUA, países da União Europeia, Canadá e Reino Unido listaram os minerais de terras raras como essenciais, por conta da sua importância estratégica e econômica na transição para energias renováveis e em aplicações consideradas de segurança nacional.
Companhias desses países vêm recebendo estímulos tanto para investir em extração quanto na tecnologia de separação e refino, atualmente controlada por grupos chineses.
Da produção de minérios de terras raras no mundo em 2024, de 390 mil toneladas de óxidos, a China liderou com 270 mil, seguida por EUA, com 45 mil.
Mesmo assim, os americanos são grandes importadores de material refinado.
Outros produtores relevantes são Austrália, Índia e Myanmar.
Das reservas conhecidas do minério, 130 milhões de toneladas, China, Brasil, Índia e Austrália detêm 60%, conforme dados de 2024 do U.S.
Geological Survey.
Leia também O Brasil é visto como um país que pode se tornar protagonista no mercado mundial de terras raras, e se tornar uma plataforma de produção mundial no Ocidente, diz Frederico Bedran, especialista em mineração, com passagem por órgãos de governo federal no setor, e sócio do Caputo, Bastos e Serra Advogados.
“O desafio é aproveitar essa janela de oportunidade de mercado”, diz.
O grande diferencial hoje do Brasil, afirma Bedran, são os grandes depósitos minerais de argilas iônicas, descobertos de 2022 para cá.
Antes, as terras raras eram exploradas de rochas, de custo maior.
“O grande salto é receber investimentos, além da mineração, nas fases de separação, para não se limitar a vender concentrado para a China”.
Segundo o especialista, no Ocidente já começam a surgir refinarias de terras raras na Europa (por exemplo, Estônia e França), e nos EUA.
“É importante o governo brasileiro ter uma política para atrair esses projetos com foco na agregação de valor do minério”.
Marcelo Carvalho, diretor executivo da Meteoric, ressalta que o Brasil tem a oportunidade de criar um mercado novo no Ocidente, que faça frente ao único existente hoje, o da China.
“É uma alternativa de suprimento de ETR, com verticalização de parte da cadeia de produção, fazendo a separação dos óxidos”, diz.
Além do governo americano há também interesse da Alemanha, França e Reino Unido por suprimento de metais de terras raras.
Bedran ressalta que o País tem os recursos de terras raras e de outros minerais críticos, mas é necessário ter uma política para fazê-los sair do chão e poder gerar riqueza.
Para ele, é possível o País se transformar em grande produtor global com as reservas que tem, com 20% a 25% do mercado de neodímio, praseodímio, disprósio e térbio, os quatro principais ETR.
Segundo informações de consultorias especializadas e do governo da Austrália, a demanda global por ímãs permanentes de terras raras aumentará a uma taxa de crescimento anual de 8,6% entre 2022 e 2035, puxada principalmente por veículos elétricos.
Mina de classe mundial O diretor executivo da Meteoric conta que a fase final de estudos de viabilidade do projeto da empresa em Caldas, município contíguo ao de Poças de Caldas, vai até junho de 2026, quando os acionistas vão tomar a decisão final de investimento.
O minério prospectado — argilas iônicas — abrange uma área que soma 193 quilômetros quadrados.
“Nossos números mostram que Caldeira é um projeto de classe mundial”, diz Carvalho.
Segundo o executivo, as últimas atualizações de dados indicaram recursos minerais de 1,5 bilhão de toneladas, com elevado teor de óxidos de elementos de terras raras.
O desenho do projeto prevê começar com extração de 6 milhões de toneladas de minério por ano, daí gerando 13,6 mil toneladas de concentrado de carbonato misto de óxidos.
Para dar suporte financeiro ao projeto brasileiro, no mês passado a Meteoric recebeu uma injeção de capital de 42,5 milhões de dólares australianos de investidores de diversos países.
Os recursos, diz, serão suficientes para manter os estudos finais de viabilidade até junho de 2026.
Com isso, os aportes no projeto já somam US$ 80 milhões.
Os principais elementos de terras raras no minério da Meteoric são neodímio, praseodímio, disprósio e térbio, os mais cobiçados no mundo atualmente.
Segundo Carvalho, os quatro vão representar cerca de 90% da receita prevista da mineradora quando estiver operando à plena capacidade de produção, a partir de 2028.
O minério é encontrado em até 30 metros de profundidade.
O volume de produção de concentrado vai representar 8% da demanda mundial de óxidos de terras raras.
A quantidade de neodímio e praseodímio (4,228 toneladas), qualificados como metais leves, vai equivaler a 7% desse mercado.
A mineradora prevê uma expansão, em 2030, para 20 mil toneladas de concentrado.
Na fase inicial, a previsão de receita anual, conforme apresentação a investidores em julho, é de US$ 245 milhões, com base em preços no mercado spot (US$ 60 o quilo).
Em um cenário de US$ 110 o quilo de óxidos de neodímio e praseodímio, projeta-se US$ 385 milhões.
Os quatro metais detectados nas jazidas mineiras de Caldas são essenciais para fabricação de ímãs super magnéticos, usados em motores elétricos, turbinas eólicas e equipamentos de defesa, entre outras aplicações em produtos de alta tecnologia.
Parte do fornecimento garantida
Carvalho informa que a Meteoric já tem contratos de fornecimento firmados com duas companhias.
Uma delas, a canadense Ucore Rare Metals, tem instalações de extração, beneficiamento e separação no Canadá e no Estado de Louisiana, EUA.
A unidade americana vai se concentrar em materiais magnéticos pesados, como térbio e samário, além de refinar praseodímio e neodímio.
O outro contrato é com a Neo Performance Materials, companhia canadense que tem uma unidade de separação e refino de óxidos de terras raras situada na Estônia.
A tecnologia da Neo parte do concentrado de carbonato de óxidos e vai até a produção de ímãs permanentes.
Carvalho comenta que um indicador que mostra a corrida dos EUA é o acordo firmado com a MP Materials, da Califórnia, única produtora de terras raras totalmente integrada do país, com o Departamento de Defesa americano para fornecer ímãs.
Dá garantia de compra de dez anos, com preço mínimo estabelecido na faixa de US$ 110 o quilo.
A MP opera desde a mineração e processamento até a metalização avançada e fabricação de ímãs permanentes.
Até outubro, a Meteoric espera receber a licença prévia do órgão ambiental de Minas Gerais para o projeto.
E conta com a emissão da licença de instalação em junho de 2026 para iniciar as obras no local da futura mina e começar a produzir em 2028.
Fonte: estadao
15/08/2025 10:47
