O motim organizado pela bancada bolsonarista na Câmara caminha a passos largos na direção da impunidade.
O corregedor da Casa, deputado Diego Coronel (PSD-BA), confirmou que adotará o rito mais longo para analisar as representações contra os 14 parlamentares que tomaram de assalto a Mesa Diretora e impediram o funcionamento da Câmara na semana passada para protestar contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro e pressionar o Legislativo a pautar projetos para livrar a cara do ex-presidente.
Na prática, isso significa que os processos terão a duração de 50 dias úteis para serem analisados apenas na Corregedoria – cinco dias para apresentação da defesa e 45 para apuração pelo órgão.
🧠 Análise da Situação
Ainda segundo o corregedor, as representações serão avaliadas de maneira individual, e não coletiva, de forma a garantir que as sanções, se recomendadas, sejam graduais e compatíveis com a conduta de cada parlamentar.
Só depois disso é que os processos voltarão à cúpula da Câmara e, eventualmente, ao Conselho de Ética.
Isso empurraria a conclusão dos casos para o fim deste ano, o que sinaliza que a intenção dos deputados é deixar tudo esfriar sem que ninguém seja punido ou, no máximo, escolher um ou outro bode expiatório para levar a culpa em nome de todos os amotinados.
🌍 Contexto e Relevância
O erro, a bem da verdade, é de origem.
Eleito com o apoio de 444 deputados, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não conseguiu aval de seus colegas na Mesa Diretora para recomendar a suspensão dos amotinados, o que abriu caminho para esse pastiche que a Corregedoria está prestes a encenar.
Já seria suficientemente ruim se fosse apenas espírito de corpo, mas o problema é que a condescendência generalizada com atos inaceitáveis na Câmara já chegou às raias da prevaricação.
🌍 O Cenário Atual de estadao
Recentemente, os deputados André Janones (Avante-MG) e Gilvan da Federal (PL-ES) foram suspensos por três meses apenas por terem xingado, respectivamente, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann – punição, por sinal, recomendada por representação da própria Mesa Diretora, e por rito sumário.
Enquanto isso, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) segue flanando nos Estados Unidos e atuando intensamente contra o próprio País e os produtores brasileiros.
Depois de sair de licença para trabalhar pelas sanções contra o Brasil, o filho do ex-presidente Bolsonaro declarou que não mais voltará e que pretende manter o cargo, a remuneração e a equipe de assessores participando de sessões remotas em território americano.
Até agora, o máximo que sofreu foi uma admoestação do presidente da Câmara, que disse não concordar com suas atitudes.
O que a diferença de tratamentos evidencia é que há dois pesos e duas medidas na Câmara.
Que Motta não tem controle do plenário já está muito claro, mas a falta de solidariedade demonstrada por seus colegas na Mesa Diretora depois da humilhação a que ele foi submetido na semana passada diz muito sobre quem realmente dá as cartas na Câmara.
Não fosse assim, a punição a atos inaceitáveis como a baderna na Casa dependeria unicamente do que foi feito, e não de quem os cometeu.
Ora, se nem esse tipo de comportamento é alvo de punições exemplares na Câmara, quem será punido daqui em diante?
Só os bagrinhos.
É preciso resgatar algum pudor na Câmara, a começar pelo primeiro vice-presidente da Casa, Altineu Côrtes (PL-RJ), que ousou dizer que pautaria o projeto da anistia aos condenados nos eventos do 8 de Janeiro na primeira oportunidade que tivesse para fazê-lo, um enorme desrespeito à figura de Hugo Motta.
É esse o recado que os bolsonaristas querem passar à sociedade, e é essa a mensagem que a Câmara enviará se os amotinados se safarem do que fizeram.
O esforço permanente dessa turba tem método: minimizar o significado das ações que cometem para esgarçar os limites da democracia e subir a régua no ato seguinte.
Não se sabe o que fará a bancada bolsonarista em sua próxima diligência, mas pode-se ter certeza de que ela ocorrerá e será ainda mais grave que a última.
Eis a razão pela qual a punição precisa ser exemplar.
Fonte: estadao
13/08/2025 07:07