Cinco pessoas foram mortas diariamente pela polícia nas capitais brasileiras em 2024, mostra Anuário Policiais militares e civis mataram 1.914 pessoas nas capitais do País no ano passado Policiais mataram 1.914 pessoas nas capitais brasileiras em 2024, um aumento de 0,9% em relação a 2023, enquanto o número total nacional caiu 3,1%; vítimas jovens, negras e do sexo masculino prevalecem.
Policiais militares e civis mataram 1.914 pessoas em 2024 nas capitais brasileiras, de acordo com o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta semana pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O número equivale a cinco mortes por dia, registrando um aumento de 0,9% em relação a 2023, quando 1.897 pessoas foram mortas.
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Em todo o País, as intervenções policiais resultaram na morte de 6.243 pessoas em 2024, o que corresponde a uma taxa de 2,9 mortes por 100 mil habitantes.
📊 Fatos e Dados
Comparado a 2023, quando foram registradas 6.413 mortes (3,0 por 100 mil habitantes), houve uma redução de 3,1% no número absoluto de vítimas.
Dezoito unidades federativas apresentaram redução na taxa de mortes decorrentes de intervenção policial entre 2023 e 2024.
Os estados com maiores quedas foram Roraima (-62,7%), Distrito Federal (-44,7%) e Pernambuco (-42,5%).
Embora tenha havido queda na letalidade policial em âmbito nacional, os pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública alertam que os números continuam elevados.
‘Apesar da redução dos homicídios registrados nos últimos anos, o número de mortos em intervenções policiais permanece elevado’, destacaram Leonardo de Carvalho, Thais Carvalho e Samira Bueno no Anuário deste ano.
Taxas de letalidade acima da média Entre as 27 unidades federativas, 10 estados apresentaram taxas de letalidade policial acima da média nacional (2,9 mortes por 100 mil habitantes) em 2024: – Amapá (17,1) – Bahia (10,5) – Pará (7,0) – Sergipe (6,3) – Mato Grosso (5,6) – Goiás (5,1) – Rio de Janeiro (4,1) – Paraná (3,4) – Tocantins (3,2) – Mato Grosso do Sul (3,0) As variações entre 2023 e 2024 mostram tendências distintas entre os Estados.
Dez unidades federativas registraram aumento nas taxas, com destaque para São Paulo (60,9%), –que vem apresentando crescimento consecutivo nos números absolutos desde 2023–, Minas Gerais (45,5%) e Ceará (30,7%).
Embora Amapá (-25,5%) e Bahia (-8,6%) tenham registrado reduções em relação a 2023, eles continuam com as maiores taxas de letalidade policial do País e com a maior proporção de mortes por intervenção policial em relação ao total de mortes violentas.
Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, seis dos dez com maiores taxas de letalidade policial estão na Bahia.
Santo Antônio de Jesus, por exemplo, apresenta taxa mais de dez vezes superior à média nacional.
Os demais municípios com altos índices estão localizados em Sergipe, Pará, Rio de Janeiro e Amapá.
Em alguns municípios, as mortes por intervenção policial representaram mais da metade das mortes violentas intencionais em 2024.
Itabaiana (SE) registrou o caso mais extremo, com 75% das mortes violentas causadas por policiais.
Santos e São Vicente (SP) aparecem em seguida, com 66,1% cada, cidades que foram palco da Operação Verão/Escudo no início de 2024 –considerada uma das ações policiais mais letais em São Paulo desde o massacre do Carandiru em 1992.
Perfil das vítimas Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a letalidade policial no Brasil apresenta um perfil seletivo, com padrões de vitimização que recaem desproporcionalmente sobre determinados grupos populacionais.
Os dados revelam que 99,2% das vítimas são do sexo masculino.
A análise por faixa etária mostra que os jovens são os mais atingidos, com taxas que atingem seu pico na faixa dos 18 aos 24 anos (9,6 mortes por 100 mil habitantes), seguida pela faixa de 25 a 29 anos (7,3 por 100 mil).
Entre adolescentes de 12 a 17 anos, a taxa é de 2,3 mortes por 100 mil, com declínio progressivo conforme avança a idade.
O componente racial aparece como um dos fatores mais marcantes dessa seletividade.
Pessoas negras (somatório de pretos e pardos) representam 82% das vítimas de letalidade policial, com uma taxa de 3,3 mortes por 100 mil habitantes –a mais elevada entre os grupos raciais.
O risco de uma pessoa negra ser morta por forças de segurança é 3,5 vezes maior que o de uma pessoa branca, demonstrando como o racismo estrutural se manifesta nas ações policiais, segundo apontam os pesquisadores.
Relação entre polícia e crime organizado Neste ano, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública destacou o assassinato de Vinicius Gritzbach, morto a tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos após firmar um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público de São Paulo.
Ele havia revelado detalhes sobre o esquema de lavagem de dinheiro do PCC e o envolvimento de policiais civis em extorsões.
As investigações mostraram que a escolta privada de Gritzbach era composta por policiais militares, muitos com passagem pela ROTA, considerada a "tropa de elite" da PM.
O autor dos disparos fatais foi o cabo Denis Antonio Martins, também PM da ativa.
Ao todo, 15 policiais militares foram presos sob suspeita de participação no crime.
A Polícia Civil concluiu que o assassinato foi encomendado pelo PCC e executado por policiais.
“Esse episódio escancara um aspecto muitas vezes negligenciado no debate público: as conexões entre agentes do Estado e o crime organizado, atravessadas por corrupção, violência e cumplicidade”, destacaram os pesquisadores.
📊 Informação Complementar
"A letalidade policial não pode ser analisada isoladamente dos desvios institucionais que corroem a integridade das forças de segurança.
Embora o uso da força letal seja parte do mandato policial, deve obedecer estritamente aos princípios de necessidade, legalidade, proporcionalidade, moderação e conveniência", acrescentaram.
Importância das câmeras
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que a adoção de câmeras operacionais portáteis pelas polícias estaduais revela os obstáculos enfrentados nas políticas de controle do uso da força e a pouca prioridade dada ao tema nas agendas de segurança pública.
Reconhecidas como instrumento de dupla proteção, as câmeras corporais servem tanto para coibir abusos e condutas inadequadas por parte dos agentes quanto para resguardar os policiais contra acusações falsas.
A gravação das interações promove maior controle de comportamento tanto por parte dos profissionais de segurança quanto dos cidadãos.
Além disso, os dispositivos ampliam a transparência, legitimidade e prestação de contas das ações policiais, servindo ainda como evidência em investigações e processos judiciais.
Apesar dos benefícios comprovados em diversos estados e do apoio formal do governo federal, apenas dez unidades da federação mantinham programas de câmeras corporais em operação em 2024.
Fonte: terra
26/07/2025 07:56