De repente, uma palavra tomou conta do noticiário e das conversas: negociação.
Ao impor tarifas que estremeceram relações comerciais em todo o planeta, o presidente Donald Trump trouxe à tona um conceito tão antigo quanto fundamental para a vida humana.
Embora agora esteja em evidência por causa dessa questão diplomática global, negociar é um exercício contínuo e inevitável para todos nós.
Aliás, a origem do termo já indica sua importância.
🌍 O Cenário Atual de veja
“Negócio” vem do latim nec otium — que significa literalmente “não ócio”.
Ou seja, negociar é aquilo que nós, assim como os antigos romanos, fazemos quando não estamos descansando ou contemplando a vida e o mundo das ideias, mas atuando na esfera prática, por meio de algum intercâmbio — de bens, valores, favores.
Sem negociação não existe horizonte possível para resolver a vida cotidiana.
Nem tudo são flores no ato de negociar.
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Em determinadas situações, uma mesa em que se debate um acordo pode parecer mais com um encontro entre pessoas que falam línguas desconhecidas sem o auxílio de um intérprete.
Quando falta a habilidade de entender as motivações e os desejos nas entrelinhas e a disposição para escutar o outro e construir pontes, é impossível avançar.
De fato, os romanos tinham razão.
É preciso “negar o ócio”: o sucesso vem da dedicação ativa e contínua.
É verdade que existem pessoas com um talento nato para negociar, capazes de “vender gelo a esquimó”.
Cresci em uma casa cheia delas.
Como a mais nova de seis irmãos, tive tempo para observar, no cotidiano, as negociações que se desenrolavam no ambiente familiar — e, também, as que os mais velhos iam desenvolvendo profissionalmente.
Os que não nascem com essa capacidade muitas vezes a adquirem ao longo da vida, seguindo o exemplo de grandes homens de negócios, sejam eles pessoas próximas ou figuras públicas.
Outros, no entanto, mesmo a duras penas nunca chegam lá.
Isso pode ser um problema, pois para tudo é preciso ter jogo de cintura.
📊 Informação Complementar
“Sem negociação não existe horizonte possível para resolver a vida cotidiana”
Quem convive no meio empresarial tem a oportunidade de receber lições diárias de negociação.
Mas negociar vai muito além do universo comercial: é um componente essencial na rota para o equilíbrio emocional e físico.
Estamos sempre negociando alguma coisa com nós mesmos, seja na hora de decidir entre um momento de descanso e um compromisso afetivo, seja quando buscamos harmonia entre o prazer à mesa e os exercícios que queimam as calorias.
A negociação é uma prática diária também no âmbito familiar; por meio dela, definimos desde responsabilidades domésticas até limites com os filhos ou netos.
Curiosamente, quando envolve crianças, quase sempre cedemos um pouco mais, fazendo vista grossa.
É o afeto negociando espaço com a disciplina.
Certa mesmo é uma coisa: não há trégua.
Passamos a vida aprendendo e reaprendendo a arte delicada da troca.
Cedemos aqui para ganhar ali.
E é justamente nesse vaivém que descobrimos um dos segredos mais valiosos do bem-estar: o equilíbrio da balança.
Afinal, negociar bem não é apenas alcançar o que se quer, mas conquistar paz com o que se deixa pelo caminho.
Publicado em VEJA de 25 de julho de 2025, edição nº 2954
Fonte: veja
26/07/2025 07:56