Informação privilegiada é coisa grave, mostrou caso de Martha Stewart O mercado exige igualdade de condições e a lei pune quem tenta driblar isso, como na condenação a pena de prisão da conhecida apresentadora Teria havido manipulação sobre o aumento das tarifas para produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos?
Teria “alguém” lucrado com isso, apostando de “três a quatro bilhões” na queda do real e na valorização do dólar?
São acusações graves, com punições correspondentes.
Nos Estados Unidos, o caso que mais se popularizou foi o da apresentadora Martha Stewart, condenada por obstrução de justiça e mentir a investigadores, pegando cinco meses de prisão fechada, cinco de domiciliar e dois anos de liberdade vigiada.
Leia mais: Moraes abre investigação sobre uso de informação privilegiada do tarifaço
Martha ficou famosa com programas sobre a vida doméstica, depois emulados em muitos países.
Decoração, montagem de mesas, receitas, jardinagem, fazia tudo com perfeição espantosa.
🔍 Detalhes Importantes
Lançou produtos múltiplos e ficou milionária.
Por trás dos invejados cabelos loiros, tinha cabeça para negócios.
Havia trabalhado no mercado financeiro como corretora e continuou investindo, não só nos próprios negócios, mas numa carteira de ações variadas.
Acusação pela qual foi condenada: o diretor de uma biofarmacêutica que era amigo dela aconselhou-a a vender as ações da empresa porque a agência de medicamentos não iria submeter a testes um remédio para câncer do laboratório, o que afetaria muito seu valor de mercado.
Eventualmente, ele fez um acordo e pegou sete anos de cadeia, dos quais cumpriu cinco.
Martha enfrentou seu próprio julgamento com roupas chiques e foi para a prisão de cabeça erguida – e cabelos impecáveis, claro.
É um exemplo da gravidade com que o crime é encarado nos Estados Unidos.
Agora, Spencer Hakimian, dono de um hedge fund de apenas 26 anos, acusou o mesmo tipo de manipulação no caso da compra e venda de reais envolvendo as tarifas brasileiras.
É com base nisso que o Supremo Tribunal abriu uma investigação.
‘COMPREM TESLA’ Hakimian, o tipo de geniozinho que todo mundo gostaria de ter como gerente de investimentos (primeiro objetivo: garantir o capital investido; segundo, multiplicá-lo ao máximo, com segurança), está encantado com sua nova popularidade no Brasil.
Ele não é imparcial: regularmente, denuncia o uso de informações privilegiadas, ou inside trading, e diz que o governo Trump é o mais corrupto que já existiu.
Fez isso em relação à tarifa de 30% para os países da União Europeia e às ações da Tesla.
No caso da Tesla, existe um fator adicional: o secretário do Comércio, Howard Lutnick, deu uma entrevista à Fox em março aconselhando os espectadores a que comprassem ações da empresa de carros elétricos.
“Nunca mais serão tão baratas”, comentou.
Era a época em que Elon Musk ainda estava de bem com Donald Trump e as ações realmente haviam sofrido uma queda de 30%.
Musk largou o governo para cuidar disso.
A declaração de Lutnick não pode ser considerada informação privilegiada, pois foi feita em público, mas entrou no campo da ética discutível.
Como pode um ministro recomendar a compra de um papel?
E ainda por cima da empresa de um sujeito que na época compunha o mesmo governo que ele?
Não pode, evidentemente.
O caso acabou escanteado depois da retumbante ruptura de Musk com Trump, mas exemplifica como é sensível a questão das relações entre os detentores da informação e os investimentos que fazem ou aconselham fazer.
Quando entram no governo, membros do governo têm que deixar suas posses sob controle de um “fundo cego”, um gestor sem acesso às informações da quais eles dispõem e sem vasos conectastes.
CAÇADORES DE IRREGULARIDADES Existe também um movimento para que membros do Congresso, principalmente os que integram comissões onde recebem informações sigilosas, sejam submetidos a um regime similar.
O caso de Nancy Pelosi, que foi presidente da Câmara, costuma ser usado como exemplo, pela capacidade notável de multiplicação de dinheiro.
Em 2024, seus investimentos renderam 54%, superando praticamente todos os fundos do mercado.
O marido dela é um reputado investidor, mas adversários políticos acusam manipulação.
É claro que quem levanta suspeitas sobre Pelosi são republicanos e, no caso contrário, democratas.
Os negócios de Trump são um prato cheio para caçadores de irregularidades, principalmente a Trump Social, sua própria plataforma digital.
O sistema de controles recíprocos funciona bem, mas o fator político deve ser levado em consideração por quem analisa os fatos.
O jovem Hakimian, investidor precoce que aprendeu como lidar com bens e imóveis com seus pais, judeus iranianos que eram do ramo da joalheria, no caso do pai, e imobiliário, no caso da mãe, é um exemplo.
As denúncias que faz devem ser tomadas como um ponto de partida, não de chegada.
Acusações de que Trump e associados fazem uso contumaz de informações privilegiadas devem ser tratadas com rigor jornalístico.
É um mundo complicado.
📊 Informação Complementar
George Soros, por exemplo, foi multado no passado por informação privilegiada no caso do banco francês Société Générale.
Isso desqualifica as organizações jornalísticas que ele financia através de sua fundação, hoje gerida pelo filho?
De jeito nenhum.
Mas recomenda não usar suspeitas como fatos consumados.
Se a justiça americana achar que existe um caso, certamente escavará tudo.
Coincidências flagrantes são um dos fatores levados em consideração, como no caso de Martha Stewart.
A apresentadora jurou inocência até o fim e manteve a popularidade enquanto esteve presa.
As ações de sua empresa subiram e haviam quadruplicado de valor quando ela deixou a cadeia.
Hoje, aos 83 anos, preservados por bons genes e um oceano de preenchimentos, ela tem uma fortuna calculada na casa dos 400 milhões de dólares.
Fonte: veja
22/07/2025 13:49