É Trump irracional quando espezinha Brasil e afaga a Argentina de Milei?
Usar o comércio como instrumento da política externa não é nenhuma novidade; diferente agora é o tom pessoal que presidente americano imprime Para o Brasil de Lula da Silva, 50% de tarifas; para a Argentina de Javier Milei, isenção em 80% das exportações.
É claro que Donald Trump está desenhando um eixo nas relações no âmbito do hemisfério americano – com um papel relevante também para Nayib Bukele, guardadas as proporções necessárias quando se trata de um país minúsculo como El Salvador.
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Esse eixo da direita, no qual entraria também o equatoriano Daniel Noboa, mostra também que Trump talvez não esteja sendo tão irracional como parece, mesmo quando toma decisões que prejudicam uma base natural do conservadorismo, como os produtores rurais brasileiros, e dão à esquerda no governo alguns momentos de superioridade no campo moral (passageiros e imediatamente maculados pelo uso de palavras como “traidores” e outros termos que deveriam ser banidos do discurso oficial; a expressão vira-latas também deveria se limitar aos simpáticos cães sem raça definida; e, na peça de Ibsen, “inimigo do povo” é o herói).
Não seria mais inteligente Trump tentar tirar o Brasil do abraço da China, trazendo-o de volta à esfera, se não de influência, de não hostilidade em relação aos Estados Unidos?
Os precedentes talvez tenham acabado com essa ilusão, estilhaçada de vez com a cúpula do Brics e os documentos de apoio ao Irã e até, inacreditavelmente, de condenação à Ucrânia por se defender da agressão russa.
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FIM DO MUNDO IDEAL É possível que Trump realmente não saiba que os Estados Unidos são superavitários no comércio com o Brasil – assim como é possível que ele saiba, embora tenha invocado o argumento errado assim mesmo.
Mas ele não está apenas fazendo cortesias a Javier Milei por causa da identidade ideológica.
A Argentina tende a ser uma fonte importante de materiais estratégicos, de lítio e terras raras a produtos agrícolas – justamente os que são tão prejudicados com as tarifas impostas às exportações brasileiras.
📌 Pontos Principais
Para a Argentina, obviamente é uma tremenda vantagem, com grande potencial para influenciar num dos aspectos mais positivos do atual momento econômico, o crescimento do PIB, projetado para até 7,5% este ano (com a ressalva de que saiu de um patamar negativo, fruto da fase inicial das reformas radicais de Milei).
Num mundo ideal, ou pelo menos num mundo em que vigorassem princípios cultivados até recentemente, o Brasil teria boas relações com todos os países e blocos do mundo.
É um país grande, com uma economia considerável, sem conflitos fronteiriços ou externos nem história pesada.
Esse mundo, infelizmente, acabou.
HORA DA CABEÇA FRIA
O governo atual fez a sua opção preferencial pela hostilidade em relação aos Estados Unidos.
O presidente chegou a dizer que a eleição de Trump representaria o retorno do nazismo e do fascismo com outra cara.
Já houve um tempo em que presidentes americanos relevavam gritarias de parceiros menores e os atraíam para o lado dos Estados Unidos, mesmo esperneando – os mexicanos protagonizaram muitas vezes esse cenário.
Esse tempo já passou e a carta de Trump representa uma ruptura muito grande com essa tradição.
Essa seria a hora de ter cabeça fria, de rejeitar, obviamente, intervenções indevidas, mas abrir o caminho discreto, profissional, racional da diplomacia.
Com uma eleição presidencial já sendo disputada quase sem disfarces e as evidentes vantagens da crise para recuperar o prestígio declinante do governo, o espaço para isso diminui.
E quem sai com benefício é a Argentina.
Fonte: veja
13/07/2025 19:25