Com a elevação dos juros básicos para 15% ao ano, maior patamar desde julho de 2006, o Banco Central ao menos sinalizou o fim do ciclo de alta, embora com a ressalva de que a taxa deve permanecer elevada por bastante tempo. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), unânime, reflete um delicado balanço de riscos para a inflação. De um lado, pesam os fatores de pressão: expectativas para o IPCA ainda muito acima da meta de 3%, aumento de preços no setor de serviços e deterioração contínua das contas do Tesouro Nacional. O cenário externo também adiciona volatilidade, dadas as incertezas em torno do comércio internacional e de conflitos geopolíticos, com impactos na cotação do real e nos preços de matérias-primas de exportação. De outro lado, o comitê reconhece movimentos na direção contrária, como uma possível desaceleração global mais acentuada e sinais de moderação na atividade econômica brasileira, que vêm se tornando mais claros. É provável, de fato, que a permanência de juros nas alturas intensifique a desaceleração da atividade econômica nos próximos meses, devido ao encarecimento do crédito e aos impactos esperados em consumo e investimento. Quanto à inflação, mesmo com projeções do BC e do mercado ainda altas, a expectativa é de convergência futura às metas. A última divulgação do IPCA, relativa a maio, foi favorável ao mostrar redução relevante nas pressões sobre itens mais persistentes, como serviços. Nas últimas semanas, vêm caindo as projeções de analistas para este ano, de 5,5% há um mês para 5,2%. A continuar essa tendência, não surpreenderá que também comecem a cair as expectativas do mercado para 2026 —que têm se mantido estáveis em 4,5%, embora o BC já projete 3,6%. Na soma geral, há a percepção de que os fatores estão estáveis, daí a abordagem cautelosa, com alta menor e, tudo indica, derradeira da Selic para que se possam “examinar os impactos acumulados do ajuste”, conforme o comunicado do Copom. A escolha, combinada com a promessa de pausa por prazo longo o suficiente, reflete um equilíbrio entre a necessidade de combater a inflação persistente e o reconhecimento de que os efeitos defasados da política monetária já começam a se manifestar. É boa notícia o alinhamento dos membros do comitê em torno desses múltiplos quesitos que fundamentaram a decisão. Embora não se esperasse nada diferente, não deixa de ser auspicioso que a diretoria parcialmente renovada continue a não dar ouvidos aos queixumes do núcleo político do governo petista. Adiante, salvo grandes erros na gestão fiscal, como uma nova e aguda expansão de gastos públicos, os sinais de moderação econômica podem se consolidar, abrindo alguma margem para cortes na Selic em 2026. Cabe ao governo não dificultar ainda mais a contenção da inflação.
Fonte: folha
20/06/2025 14:50